Heleieth Saffioti é uma socióloga/feminista cuja obra confunde-se com a própria fundação deste blog. Na primeira postagem, no ano de 2006, tive o (des)prazer de abordar as asneiras que a feminista Saffioti escreveu sobre o aborto ao tentar rebater um artigo do Procurador Cicero Harada, no qual este mostrava o absurdo de se procurar legalizar o aborto no Brasil, enquanto existem leis que buscam proteger ovos de tartaruga.
O assunto rendeu um bom debate à época e pode ser visto em sua totalidade, inclusive a cronologia dos artigos que se seguiram à polêmica, em um outro blog que mantenho. Lá podemos ver o quanto a socióloga/feminista se perde completamente ao tentar defender seu ponto de vista não com argumentos, mas, sim, com “carteiradas” acadêmicas, que foram devidamente respondidas por Cicero Harada, que em nenhum momento deixou-se abalar pela fúria babenta da professora Heleieth.
Mas o assunto não morreu para a socióloga/feminista… Recente chamada publicada no número 733 da revista PUCViva, a revista da Associação dos Professores da PUC-SP (sempre as PUCs…), apontava uma matéria publicada na revista UNESP Ciência, no. 6, de março de 2010, na qual a antiga professora da PUC-SP continua a divulgar uma fantasia saída de sua cabeça marxista: a de que foi demitida da PUC-SP por motivos ideológicos, devido a ter escrito uma resposta ao artigo do procurador Harada.
À época, houve até mesmo um abaixo-assinado no qual uns gatos pingados tentavam levar a mentira da demissão ideológica à frente. Não adiantou. Heleieth demitida estava e demitida ficou.
Mas não é que mesmo após 4 anos a demitida ainda tenta emplacar a mentira como se fosse verdade? Para ser sincero, eu gostaria muito que a demissão de Heleieth tivesse tido um viés ideológico. Eu adoraria que as PUCs do Brasil inteiro só empregassem gente que mostra um mínimo de coerência com os ensinamentos da Santa Igreja.
Não defender a legalização do aborto, como fez a demitida, por exemplo, já seria ótimo. Demitir gente assim faria um bem enorme para a Igreja e para as PUCs, que talvez deixassem de ser o celeiro de abortismo e esquerdismo que se tornaram. E tudo isto à vista complacente de tantos bispos.
Mas o fato é que a demissão de Heleieth Saffioti não foi ideológica. Por exemplo, segundo a matéria da UNESP Ciência, uma das assinaturas no abaixo-assinado era de Luiza Erundina, deputada federal. Pois é, a mesma Luiza Erundina que em 2008 foi chamada para fazer uma “análise de conjuntura” para padres, a mesma Luiza Erundina que foi a pioneira do chamado “aborto legal”.
Ou seja, é a ideologia que levou subitamente a professora a ser demitida após 16 anos ensinando o que queria na PUC-SP? É a ideologia que leva Erundina a assinar um abaixo-assinado contra uma decisão da Arquidiocese e, algum tempo depois, ir falar em um evento direcionado a padres? Ao que parece, a ideologia só faz é favorecer a socióloga/feminista e sua agenda marxista.
Marxismo, aliás, do qual ela se orgulha muito, chegando ao cúmulo do cafonismo ao tirar foto à frente de uma imagem de Karl Marx. Se o nível de adesão pode ser medido pelo quanto de ridículo alguém se dispõe a fazer, a socióloga/feminista atingiu os píncaros.
Como a professora achou por bem trazer de volta a polêmica relacionada ao debate, debate no qual ela mostrou uma completa falta de preparo para produzir um único argumento, preferindo muito mais ataques ridículos ou rotulamentos furiosos — “Papa da Morte” — que talvez indiquem o nível acadêmico da professora, também eu resolvi trazer de volta um texto que escrevi à época e que foi publicado no no. 34 do boletim “Cooperatores Veritatis”. Segue abaixo.
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O medo como método
Quem lê na Folha de São Paulo a notícia sobre o abaixo-assinado que tenta reverter a demissão da socióloga Heleieth Saffioti, fica com a impressão de que ela está sendo injustiçada pela simples publicação de um artigo no qual defende a descriminalização do aborto. A forma da notícia praticamente leva qualquer um que a lê a concluir que a professora Saffioti, ao heroicamente ir contra os “cânones da fé católica”, foi autoritariamente demitida por lutar por seus ideais.
Nada poderia estar mais errado…
Nem é o caso de se assumir o “dito pelo não dito”, pois simplesmente o que aconteceu na notícia é que foram totalmente omitidas certas informações que são a chave para que se possa tentar entender a questão. Um trabalho jornalístico sério geralmente leva em conta o histórico de determinado fato, os posicionamentos de todos os lados em uma determinada questão, a conjuntura, etc.
Nada disto foi abordado na notícia. O único fato mostrado é o surgimento do abaixo-assinado, que, realmente, é notícia. Porém, ao tomar a decisão jornalística de omitir os fatos anteriores e posteriores ao artigo da socióloga, a notícia serviu apenas como propaganda para angariar mais assinaturas. Deve haver muita gente louca para receber um e-mail e poder se juntar a mais esta causa, pois quem não gostaria de poder juntar seu nome ao de uma boa parte da fina-flor da intelectualidade brasileira? E de quebra ainda poder jogar uma pedra na Igreja? É muita tentação!
Falar do artigo da professora Saffioti e de sua demissão como se fossem fatos isolados é como falar da Bomba de Hiroshima sem relacioná-la com a 2a Guerra: pode dar uma excelente matéria, mas vai deixar os leitores muito mal informados. Mas, repito, é uma decisão jornalística. Cada jornal sabe até onde vai seu compromisso com a boa informação.
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A tese central do abaixo-assinado é de que a professora foi demitida por abertamente defender a descriminalização do aborto em um artigo. Se alguém colocou sua assinatura no referido documento baseado nesta informação, é melhor que procure retirá-la o quanto antes, pois estará dando seu aval a um embuste e demonstrando um total desconhecimento dos fatos. Vamos a eles.
O artigo no qual a professora Saffioti defendeu seu ponto de vista, nada mais foi que uma tentativa de réplica ao artigo “O Projeto Matar e o Projeto Tamar: o Aborto”, do Procurador Cícero Harada, também veiculado na página da OAB-SP. Foi mera tentativa porque a socióloga não rebateu nenhum dos argumentos expostos pelo Dr. Harada, praticamente fugindo ao debate. Ao invés de debater, o que era de se esperar de uma acadêmica de seu porte, ela preferiu produzir uma peça na qual misturou ódios, preconceitos, inverdades históricas, e ainda achou espaço para fazer uma propagandazinha do livro de uma colega “feminista”.
Mas será mesmo que a direção da PUC-SP daria tanta importância a este artigo, para lá de medíocre, da socióloga? Ao ponto mesmo de demiti-la por este motivo? Se ela foi demitida por defender abertamente o aborto, por que então não foi demitida há vários e vários anos atrás? Sua militância feminista é amplamente conhecida por todos, ela é uma referência nacional, então é óbvio que a Arquidiocese de São Paulo sempre soube de seu posicionamento sobre questões como o aborto. E, apesar disto, ela lecionou em uma Pontifícia Universidade Católica desde 1989, segundo noticiado. Há 16 anos!!!
Por 16 anos a professora Saffioti ensinou o que quis na PUC-SP, não há registros de que tenha havido algum tipo de patrulhamento em suas aulas. (Pelo menos não lembramos de algum abaixo-assinado que denunciasse algo neste sentido…) Por 16 anos suas bases ideológicas não foram contestadas. E agora o grupo que criou o abaixo-assinado quer nos fazer crer que:
“(…) no caso da Profa. Heleieth Saffioti, a demissão foi devido a um artigo que ela escreveu em defesa de descriminalização do aborto. Foi chamada para prestar esclarecimentos. Como reafirmou sua posição, foi demitida.”
Ou seja, tais pessoas querem que acreditemos que 447 professores da PUC-SP foram demitidos, mas que o caso da professora Saffioti foi perseguição ideológica, devido ao artigo no qual teria defendido a descriminalização do aborto. Isto é pura ficção… Durante 16 longos anos a professora Saffioti, falou o que quis na PUC-SP ou em qualquer outro lugar, sobre aborto ou qualquer outro assunto, mas bastou ela publicar um artigo (uma pífia réplica, na verdade) para que a Igreja, defendendo os “cânones da fé católica”, a demitisse?
Esta deve ter sido a perseguição ideológica mais longa da história… Podemos quase imaginar os clérigos esperando o exato momento de uma profunda crise financeira na PUC-SP para, dissimuladamente, sorrateiramente, conseguirem demitir a socióloga que tanto embaraço lhes causava. Querendo ser realmente criativos, podemos até imaginar que a crise foi causada de propósito para que a demissão da professora pudesse passar desapercebida. Que tal? Isto é praticamente um enredo de Dan Brown: “O Código da PUC”! Não sei como ninguém disse ainda que há nisto tudo o dedo ubíquo do Opus Dei.
O que nem a notícia e nem o abaixo-assinado mostram é que todos estes movimentos, aparentemente aleatórios, parecem fazer parte de um método: o método do medo. Neste método, basicamente precisamos de dois elementos: um carrasco e uma vítima. Lendo a notícia da Folha e o abaixo-assinado sabemos muito bem quem posa de vítima e quem é pintado como o carrasco.
Tal método procura capitalizar a simpatia de terceiros para determinadas causas não através de argumentos que possam sustentar seus ideais, mas através da criação de situações nas quais um grupo possa posar de vítima. Alegando injustiças fictícias, dizendo-se vítimas de preconceitos imaginários, buscam os que se utilizam de tal método que estas situações imaginárias tornem-se mais importantes que os próprios argumentos. É pura apelação, puro embuste.
Parece que foi utilizando este método que um grupo de advogadas de São Paulo escreveu uma peculiar carta aberta: “Eu tenho medo”. Esta infeliz manifestação veio a público após excelente tréplica do Dr. Cícero Harada ao artigo da professora Saffioti. Nesta carta, tais advogadas desfiam uma série de medos bobos e infantis, o que apenas demonstra sua agora notória falta de argumentos.
E é exatamente devido a esta completa falta de argumentos que o medo é utilizado como método. Há quem diga que contra fatos não há argumentos; estas senhoras parecem preferir dizer que contra argumentos existem os medos.
O abaixo-assinado nitidamente segue este caminho… Que importa se a PUC-SP passa por uma crise financeira? Que importa se a socióloga pôde lecionar durante 16 anos sem ser incomodada? Que importa se o Padre Juarez de Castro, Secretário de Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, tenha declarado que “Os critérios para a lista já foram divulgados [idade avançada e avaliação de desempenho, entre outros]. Ela [a professora Saffioti] sempre defendeu coisas como essa e nunca houve problema”? Que importa se nenhum argumento do Procurador Cícero Harada tenha réplica aceitável? Que importa se 446 outros professores tenham sido também demitidos?
Nada disto tem importância para quem se utiliza do medo como método. Colocando-se na posição de vítimas – como fizeram as advogadas -, ou colocando a professora Saffioti nesta posição – como fizeram os idealizadores do abaixo-assinado -, o que se tenta é criar um fato através de uma ficção, o que se tenta é conseguir adeptos a qualquer custo, nem que para isto seja necessário distorcer os fatos.
O que não percebem os entusiastas de tal método é que a criação e expansão de tais terrores é uma característica totalitária. Se eles se sentem bem nesta posição, façam bom proveito. Eu, porém, sinto-me bem mais tranqüilo ao seguir o caminho proposto por um cardeal polonês, que em seu primeiro discurso como Papa nos ensinou:
“Não tenham medo!”