Como é viver depois de abortar um filho? A uma mulher continua a vida da mesma da mesma forma como antes?
Muitas mulheres dizem que não, e a falta de entendimento do que o aborto provoca faz com que essas consequências sejam levadas em segredo e na solidão.
O Contra o Aborto conversou com Sônia Costa, do Projeto Raquel – um ministério da Igreja Católica dedicado especialmente às mulheres que abortaram – para saber um pouco sobre os sintomas pós-aborto, como o projeto atua e onde pode ser encontrado.
O que é o Projeto Raquel?
PR: O Projeto Raquel é o ministério de cura pós-aborto da Igreja Católica.
Oferece reconciliação, bem como cuidados espirituais e psicológicos para aqueles que sofrem com as consequências do aborto – seja espontâneo ou provocado.
É uma rede composta de pessoas especialmente treinadas, que pode incluir padres, diáconos, freiras, leigos e voluntários, profissionais de saúde mental, diretores espirituais e outros, como profissionais da área médica.
Estas pessoas geralmente trabalhando em equipe, proporcionam cuidados diretos para mulheres, homens e adolescentes que foram atingidos por uma perda devida a aborto, permitindo-lhes sentir o luto, desenvolver um relacionamento pessoal com Cristo e se unirem à Igreja por meio do Sacramento da Reconciliação.
João Paulo II dirigiu uma mensagem especial a estas mulheres na Encíclica Evangelium Vitae: “Mas não vos deixei cair no desânimo, nem percais a esperança… O Pai de toda a misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no Sacramento da Reconciliação” (Par. 99).
O Projeto Raquel apesar de ser da Igreja Católica não discrimina credos, todas(os) que nos procuram são atendidos.
Como que essas mulheres que sofrem as consequências pós-aborto chegam a vocês?
PR: As pessoas ligam para o telefone do Projeto, serão atendidas por um voluntário treinado que a partir deste contato encaminha as pessoas para um sacerdote, psicólogo ou outro profissional da rede de apoio, aquele que esta pessoa desejar. Este acompanhamento é sigiloso e individualizado.
Há um ditado que “o tempo cura tudo”. Isso é verdade para quem teve um aborto?
PR: Não. Existem estudos que concluíram que quanto mais tarde a realidade é admitida, mais difícil é a resolução do problema.
Existe Síndrome Pós-Aborto?
PR: Apesar de muitos médicos e psicólogos (pró-abortistas) assinalarem que os transtornos que apresentam as mulheres depois do aborto são algo meramente “emocional e psicológico”, uma sã psiquiatria demonstra que se trata de algo muito mais sério, de ordem patológica e que pode agrupar-se em três tipos de problemas: acima de tudo, de depressão e sentimento de culpa; em segundo lugar, de agressão contra o pai da criança, ou quem induziu ao aborto e contra a sociedade em geral; finalmente, alterações na personalidade em forma crônica, parecidas com as enfermidades cerebrais: tendências suicidas; distúrbios alimentares; alcoolismo e drogas etc.
O que ajuda uma mulher a se levantar e a superar a Síndrome Pós-Aborto?
PR: A primeira providência enfatizada pelos clínicos que trabalham com mulheres que se submeteram a abortos é fazer com que elas chorem pelo filho perdido, vivam o luto. A realidade é que uma criança morreu e a resposta humana natural à morte é a tristeza.
Se a mulher é impedida de assim reagir, ela terá dificuldade de encarar a realidade da experiência abortiva.
Entristecer-se significa que ela tem noção de seu filho e que ela está chorando por uma determinada pessoa que morreu.
Obviamente isto é mais difícil para uma criança que nunca foi vista. Era um menino ou menina, qual a cor dos cabelos e dos olhos que ele ou ela teriam? O problema é ainda mais intrincado no caso do aborto porque o corpo da criança é geralmente mutilado e é difícil para a mulher pensar na criança cujo corpo não mais existe.
Perdoar-se é fundamental, a culpa que elas carregam a transformam em “mulheres sem valor, diante de Deus”. Trabalhar com elas o amor de Deus que perdoa tudo, acolhe nossa miséria e fica com o nosso melhor, não castiga, não julga.
Somos nós responsáveis pelas nossas escolhas e o processo do reconhecimento da nossa fraqueza diante deste ato nos leva ao entendimento de que para Deus tudo é possível, até perdoar o pecado da morte.
Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelo projeto?
PR: O medo e a vergonha que as pessoas têm de se exporem. É preciso ficar bem claro que este atendimento é sigiloso e individual. Este medo e vergonha são naturais, vejamos uma situação muito usual: quando uma família tem um filho envolvido com drogas ela tem vergonha de pedir ajuda e só busca quando já estão no fundo do poço. Quanto ao aborto não é diferente.
A mulher que abortou precisa caminhar para a aceitação do perdão que Deus quer derramar sobre ela ou que já derramou caso tenha buscado o sacramento da Reconciliação. Bento XVI em sua carta de “Proclamação de um Ano Sacerdotal”, 2009 cita: “não é o pecador que regressa a Deus para implorar Seu perdão, mas o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz voltar a Ele.”
O projeto dá assistência a mães que sofreram abortos espontâneos e também àquelas que optaram pelo aborto. Existe alguma diferença neste tratamento?
PR: O Projeto Raquel atende todas as pessoas que buscam ajuda por estarem sofrendo em consequência de aborto de qualquer espécie. E também aquelas que perderam seus bebês muito prematuramente, ou lhes foi sugerido o aborto terapêutico, situações em que o feto apresenta alguma má formação, ou põe em risco a vida da mãe. São várias situações. É importante deixar bem claro que não julgamos, não vamos expor as pessoas, não queremos saber das causas que as levaram à prática do aborto, ao Projeto Raquel interessa acolher uma pessoa em sofrimento e dizer a ela que a misericórdia de Deus esta para todos.
Como as mulheres devem proceder para contar com a assistência do Projeto Raquel?
PR: O contato com o Projeto Raquel – Salvador é pelo telefone (71) 3491-0918, e-mail: projetoraquel.salvador@gmail.com, e facebook: Projeto Raquel – Salvador.
Há também o Projeto Raquel – São Paulo, telefone 2574-4175, e-mail: projetoraquel.saopaulo@gmail.com, e facebook: Projeto Raquel – São Paulo.
E o site www.projetoraquel.org.br
É importante destacar os sintomas que muitas mulheres apresentam e podem estar relacionados ao aborto vivido a poucos meses ou a décadas atrás: culpa, vergonha, depressão, baixa-estima, isolamento e/ou rejeição ao companheiro e/ou aos filhos, disfunções sexuais, medo de ser rejeitada por Deus, desolação espiritual, insônia, problemas com álcool e/ou drogas, infertilidade, pesadelos raiva de si mesma e outros.