Capitão Obvious (o super-herói que lida com a qualidade das mensagens que chegam à minha caixa postal) escreveu para mim uma mensagem deveras ácida. Ele, como todo bom super-herói, entende o valor do recolhimento nestes dias que antecedem a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele escreveu que apesar de estar com o coração voltado para a Paixão de Nosso Senhor, achou por bem que eu desse a devida atenção a um comentário que chegou até nós.
Ele me disse que ficou um pouco preocupado com o que o remetente entende por humanitarismo e até lembrou que um tal “humanistarismo” deste tipo esteve muito em voga em certos círculos na Alemanha durante as décadas de 30 e 40 do século passado. Ele escreveu que, naquela época, a história não acabou bem, e que não haveria porque acabar bem agora.
Eu, que jamais deixo de atender um alerta do Capitão — quem sou eu para esnobar um super-herói? –, entendi que realmente o remetente do comentário merece uma resposta.
Primeiramente, a íntegra do que aqui chegou:
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Como o Supremo Tribunal Federal disse, os embriões congelados nos tubos de ensaio nos laboratórios so tem 3 destinos:
1. Passam o resto da eternidade alí, congelados e inservíveis.
2. São jogados no lixo (algum dia serão, afinal nao tem lugar pra guardá-los pela eternidade).
3. Ser utilizados em pesquisas quando já nao podem mais se tornar seres humanos.
O que é mais humanitário?
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O remetente nem mesmo precisou enumerar nada para já sair caindo no erro… O STF não disse nada. Houve um voto do relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade. Após isto, um outro ministro pediu vistas do processo e a decisão final ainda será dada.
Ou seja, o remetente acha que a palavra de um ministro vale para que as pesquisas sejam liberadas. Não vale. E é bom que se diga que mesmo que todos os ministros votem a favor desta sandice, desta claríssima inconstitucionalidade, nem mesmo assim uma pessoa que tenha algum aprêço pela vida humana deve achar que está liberado.
Aliás, o remetente pode até não gostar, mas o raciocínio dele, que parece acreditar que o que uma instância jurídica decide torna-se lícito, confirma o que muitos pró-vida acertadamente prevêem no caso de uma liberação do aborto: muitas pessoas que o rejeitavam passarão a encará-lo como coisa positiva apenas porque se tornou legal. Fatal engano.
Mas, vamos aos números…
1) “Passam o resto da eternidade ali, congelados e inservíveis.”
Capitão Obvious foi quem me alertou sobre o curioso senso de utilitarismo do remetente. O Capitão até achou que entre um ser humano congelado e entre o remetente ele preferiria passar a eternidade ao lado das crianças, pois elas não tem este senso estranhíssimo de utilitarismo. Ele achou que em algum momento o remetente acharia que ele não serve para nada e o jogaria na lata de lixo mais próxima. O Capitão Obvius é uma cara muito prático e ele não se dá muito bem com quem insiste em sacrificar os outros para benefício próprio.
Claro que o que o remetente escreveu é uma asneira sem fim. “Congelados e inservíveis?” Eu ainda tentei aplacar um pouco a ira do Capitão, mas ele, ameaçando retirar-se do blog, pediu que eu escrevesse literalmente as próximas palavras.
“INSERVÍVEL É A VOVOZINHA!”
Ele estava realmente fora de si. Só relaxou quando o lembrei que nem mesmo as vovozinhas são inservíveis. Ele riu um pouco, mas disse que eu mantivesse a frase. Ou isto ou que arrumasse um outro super-herói para o seu lugar. Como não é todo dia que aparece um bom super-herói dando sopa, eu resolvi deixar a frase do Capitão do jeito que está.
Claro que a sandice (nosso tempo é uma época de sandices, não?) escrita pelo remetente nos leva a lembrar do menino Vinicius Dorte, que hoje tem por volta de 6 meses e que estava congelado há 8 anos. Mais detalhes podem ser vistos em:
http://www.brasilsemaborto.com.br/noticiavisual.asp?id=409
Pela Lei que o remetente defende que seja válida, o menino Vinícius teria virado brinquedinho na mão de cientistas inescrupulosos.
E Vinícius é uma excessão? Não mesmo. Há inúmeros casos parecidos com este. Até mesmo no Youtube pode ser encontradas informações disto:
Capitão Obvious achou que o remetente deveria ser um pouco mais “servível” e fazer o trabalho de casa ao invés de ficar enviando mensagens mal fundamentadas para o blog dos outros.
2) “São jogados no lixo (algum dia serão, afinal nao tem lugar pra guardá-los pela eternidade).”
O Capitão ficou um pouco enjoado com esta frase do remetente. Ele disse que sempre se sente assim quando vê alguém ser tão passivo. Ele me disse que não suporta este “laissez-faire”, esta indiferença com que tantos encaram a vida.
Infelizmente o remetente não consegue ver o problema de uma ótica que o leve a sair de sua inércia. Parece dizer: “Hay embriones? Tenemos que matarlos!”. Para ele, os embriões são apenas um problema a ser resolvido, ele jamais os encara como seres humanos. Foi o Capitão que me explicou por que o remetente age assim: é que assim fica mais fácil defender o que ele defende. Se ele não encara o concepto como um humano, importa-lhe apenas que a ele seja dado o destino que mais lhe seja útil.
Não, caro remetente, a lata de lixo não é um destino aceitável para ninguém. Sequer elencar isto como uma possibilidade só demonstra o nível de descaso com a vida humana que permeia nossa sociedade. Quando um ministro da mais alta instância jurídica de uma nação utiliza isto para um voto em matéria de tal importância, isto só deixa claro o quanto as coisas vão erradas e doentes em nossa sociedade.
A lata de lixo é destino apenas do lixo, não de embriões humanos. Eu e o Capitão ficamos muito enojados em que você ache mesmo que isto é um destino a ser considerado.
3) “Ser utilizados em pesquisas quando já não podem mais se tornar seres humanos.”
Finalmente o centro da questão!
“Não podem mais se tornar seres humanos”??? O Capitão Obvious pediu-me para perguntar se o remetente estava em um mau dia ou se ele é assim mesmo normalmente. O Capitão disse, literalmente:
“Céus! Como é que alguém não mais pode se tornar aquilo que já se é?”
O Capitão pediu para perguntar se o remetente tinha notícia de alguma recente revolução no ramo da embriologia que classificasse como não-humano o fruto da concepção entre seres-humanos. Ele, o Capitão, disse que comeria a própria capa sem sal se o remetente trouxesse dados que demonstrassem que o fruto da concepção entre seres-humanos torna-se um pato. E olha que ele gosta de patos…
O caso do menino Vinícius Dorte e inúmeros outros servem para botar abaixo mais esta asneira do remetente.
Tanto eu como o Capitão achamos que o remetente, no fundo, é um desinformado que necessita de parar de pensar em assuntos sérios utilizando a superficialidade de quem discute o jogo de ontem em um boteco qualquer. Nós achamos que ele pode fazer um bom esforço e dar uma guinada e ver que o lado que ele escolheu nesta parada tem muita pose, mas que lhes falta apenas uma coisa: razão.
Para finalizar: “O que é mais humanitário?”
Pedimos apenas que o remetente tenha muito cuidado ao abraçar qualquer coisa que venha até mesmo do Supremo Tribunal Federal. Será que o remetente sabia do papel que certas Supremas Cortes tiveram no passado?
A Norte-Americana, por exemplo, aprovava a escravidão defendendo que os negros não eram humanos.
Que tal o remetente pesquisar sobre a curiosa figura do juiz Roland Freisler? Garanto que ficará abestalhado de até que ponto pode chegar um juiz para subverter as leis que garantem a dignidade humana.
Eles também se diziam “humanitários”. Deu no que deu…