Confusas pelo Direito de Decidir – “Abortando a Igreja”

As “Advogadas Medrosas”, em seu oitavo “medo”, disseram-se temerosas porque o Dr. Harada alegou que as CDDs (“Confusas” pelo Direito de Decidir) eram “soi disant” católicas. Elas, porém, alegam que as CDDs são realmente o que dizem ser.

Mas será que são mesmo? Claro que não, como qualquer menino ou menina em seu primeiro dia de catequese pode bem dizer. Fé cristã católica e defesa do aborto são mutuamente excludentes. Ponto. Sem meio-termo. Sem mais e sem menos. Sem gradações. “Ou és frio ou quente”.

O que deve ser indagado é por que tais pessoas insistem em se dizerem católicas? Qual a importância que vêem em obter esta identidade para seus objetivos? Abaixo segue a tradução de um artigo da jornalista norte-americana Kathryn Jean Lopez, que é muito informativo sobre estas e outras questões sobre as “Confusas” pelo Direito de Decidir. A versão original do artigo pode ser lida na página da revista “Crisis” (clique aqui) e foi publicada em abril de 2002.

 

Abortando a Igreja – Kathryn Jean Lopez

A mídia adora Frances Kissling. É difícil culpá-la por isto, dada a sua agenda política: Kissling deseja que o aborto permaneça legal, sem quaisquer restrições. Ela deseja o Vaticano fora das Nações Unidas. Ela quer que os bispos americanos declarem que a utilização de preservativos é lícita, até mesmo que eles os distribuam aos fiéis. Ela deseja que a pílula do aborto (eufemisticamente chamada de “pílula do dia seguinte”) seja bem barata e acessível a todos. Ela deseja que hospitais católicos façam todos os procedimentos chamados como “serviços reprodutivos”, incluindo abortos e esterilizações. Ela deseja também “igualdade de gênero” no sacerdócio da Igreja Católica.

E ela é católica. Ok.

Frances Kissling é presidente há 33 anos das “Católicas pelo Direito de Decidir” (CDD), um grupo “Católico” independente, com uma sólida base de financiamento e, talvez, tudo que atualmente se necessita para fazer impacto: maciça presença na mídia. O propósito das CDDs é promover o aborto, “saúde reprodutiva”, e igualdade de gênero, tudo na linha do que as CDDs chamam de “tradição de justiça social”.

O problema com este esquema deveria ser óbvio. Na verdade, o episcopado norte-americano notou a importância deste assunto. Em uma declaração divulgada em maio de 2000 pelo presidente da Conferência Bispos Norte-Americanos, Bispo Joseph A. Fiorenza, os bispos versaram sobre o status das CDDs.

“Há alguns anos”, pode-se ler na declaração do Bispo Fiorenza, “um grupo auto-denominado Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) tem apoiado publicamente o aborto enquanto clamando que assim o faz como uma voz autêntica do catolicismo. Isto é falso. Em verdade, a atividade de tal grupo é direcionada à rejeição e distorção dos ensinamentos católicos sobre o respeito e proteção que são devidos aos indefesos seres humanos não-nascidos.”

As CDDs, a declaração prossegue, é “um braço do lobby abortista nos EUA e através do mundo”, fundada por abastadas fundações privadas buscando “promover o aborto como método de controle populacional”. Os bispos fizeram uma declaração similar em 1993.

Mas Frances Kissling pensa diferente. Ela sempre insiste que é uma excelente católica. Ela foi tão longe nesta afirmação que até mesmo desafiou publicamente qualquer clérigo a excomungá-la. “Desde que nenhum bispo ou papa – e eu tenho uma razoável certeza que estas autoridades sabem quem eu sou e em que acredito – decidiu não excomungar-me e nem declarar que eu estou automaticamente excomungada, estou confiante que permaneço em boa posição na Igreja”, ela escreveu em 1999.

 

Operação “See Change”
[N. do T.: algo como “Mudança na Sé”, referente à Santa Sé]

A declaração dos bispos norte-americanos foi divulgada devido ao aparecimento da campanha das CDDs de maior sucesso jamais feita em termos de espaço na mídia. A Operação “See Change” é um projeto visando a que as Nações Unidas revogassem o atual status da Santa Sé de “Estado não-membro Observador Permanente”. (O Vaticano voluntariamente escolheu não ser um membro de pleno direito para que não tivesse que fornecer recursos e nem escolher um lado em tempos de guerra.) “Acreditamos que a Santa Sé, o governo da Igreja Católica Romana, deveria participar nas Nações Unidas como qualquer outra religião – como uma organização não-governamental”, declara a Operação “See Change” em seus objetivos.

“Seja chamada como Santa Sé, o Vaticano ou Igreja Católica Romana, é uma religião, não um país”, dizem as CDDs no site da Operação “See Change” em www.seechange.org. O site traz slogans como “Mantenhamos as Nações Unidas seguras para as mulheres. Fim ao estatismo do Vaticano” e “Advertência: o estatismo do Vaticano é perigoso à saude das mulheres”. Uma frase favorita de Kissling é que se o Vaticano merece ter palavra nas Nações Unidas, a Euro-Disney também merece.

As CDDs e os que apóiam a Operação “See Change” argumentam que o Vaticano não é um estado e não deveria ser tratado como um pelas Nações Unidas. Considere-se, contudo, este curioso comentário de Frances Kissling em uma entrevista concedida em 1989 à revista “Mother Jones”: “Eu gastei 20 anos procurando por um governo que eu pudesse derrubar sem que fosse presa por isto. Finalmente eu encontrei um: a Igreja Católica.”

O Vaticano, claro está, é um Estado de Direito. Diminuir seu status seria deixá-lo com o mesmo status de, digamos, as Bandeirantes. As Nações Unidas jamais responderam à campanha das CDDs, embora todo grupo pró-aborto que se possa pensar tenha aderido à esta campanha, organizando protestos e outros eventos feitos sob medida para as câmeras dos noticiários de TV. Mas, ao final, nenhum estado-membro apoiaria a campanha, o que é necessário para que o status do Vaticano seja revisto pelas Nações Unidas. Por outro lado, uma contra-campanha pró-vida adquiriu mais apoio em bem menos tempo.

A campanha “See Change” deveria ter sido um grande embaraço para as CDDs. Mas para a mídia e para a indústria abortista, as CDDs são um enorme ativo. Ainda não há clima para um embaraço público. Não ainda.

 

A verdadeira CDD

Em 1980, Frances Kissling deixou seu posto como fundadora e diretora da National Abortion Federation (Federação Nacional de Aborto – a associação conjunta de clínicas de aborto) para tomar o leme das CDDs, que foi fundada em 1973 – o ano em que Roe X Wade foi decidido.

“É impressionante o que o dinheiro pode comprar”, escreveu Gail Quinn, diretor-executivo do Secretariado para Atividades Pró-Vida da USCCB (Conferência Norte-Americana dos Bispos Católicos), recentemente em um editorial sobre as CDDs. “Kissling veicula anúncios nos maiores jornais, divulga inúmeros comunicados à imprensa, tem acesso a repórteres, circula com pessoas da moda que sempre estão na mídia, publica quantidade imensa de material, e viaja a toda parte para que todos possam vê-la.” (Bem… em quase toda parte. Kissling declinou repetidos convites para ser entrevistada para este artigo.)

Entre os mais óbvio problemas com as CDDs – outro além de sua apologia do aborto e de outros aspectos da cultura da morte – é sua lista de contribuintes. Como apontado por Thomas Woods em uma recentemente divulgada monografia sobre as CDDs para a “Catholic Family and Human Rights Institute (C-FAM)”, organização pró-vida nas Nações Unidas que faz oposição às CDDs, “As CDDs, que se retratam como a grande campeã da dignidade feminina, por duas vezes obtiveram fundos da Fundação Playboy de Hugh Hefner”. (Kissling insistiu, contudo, que ela nunca aceitou dinheiro de Larry Flint e da revista Hustler, dizendo que “há limites ao bom gosto.”)

Mas isto é apenas a ponta do iceberg. Brian Cowles detalha a base financeira da organização em seu novo livro “Catholics for a Free Choice Exposed”, editado pela organização Human Life International. Alguns dos nomes são familiares: Fundação Turner, Fundação Ford, Fundação David e Lucile Packard e a Fundação Rockefeller.

A revista “Philanthropy” mostrou que os contribuintes das CDDs apóiam muito pouco outras organizações católicas: “Procura-se em vão evidências que estes mesmos contribuintes apóiem significativamente programas tais como de escolas paroquiais, asilos para religiosas, auxílio às missões, ajuda às vocações ou ajuda ao ministério paroquial, áreas que são a essência da filantropia católica nos dias atuais”.

Nem é necessário que se dê crédito ao testemunho pró-vida para que se perceba isto. O anterior presidente das CDDs, Joseph O’Rourke, um ex-jesuíta, admitiu, em entrevista concedida em 1984 para a National Catholic Register, que “a organização das CDDs por anos foram mantidas em funcionamento porque as principais lideranças do movimento pró-escolha queriam um voto católico”.

Em seu web site (www.cath4choice.org), as CDDs oferecem várias aduladoras citações retiradas da mídia sobre Frances Kissling. Uma é da colunista Ellen Goodman, que chamou Kissling a “filósofa do movimento pró-escolha”. Isto parece ter cativado os grandes nomes pró-escolha – Planned Parenthoods e NARALs – a fazer a “ex-freira” (como ela é muitas vezes erroneamente rotulada) pró-escolha sua porta-voz. Devido à sua experiência, ela pode dizer coisas que estes grandes nomes não podem.

Também para suas correlegionárias, nada há que não possa ser dito. Críticos rotineiramente referem a Kissling e às CDDs como “Frances Kissling e sua máquina de fax”. Ou, como alguns o rotularam, “um timbre de alto valor”.

Embora sua organização não tenha qualquer membro efetivo, Kissling alega representar os católicos norte-americanos, argumentando que católicos são em sua maioria “pró-escolha” (ela diz que por volta de 70%). O que ela não diz é que a maioria dos católicos não apóiam a posição das CDDs – qualquer aborto, a qualquer momento, sem qualquer restrição. Católicos, admite-se, são pouco melhores do que o resto dos EUA quando se trata da questão do aborto – dividem-se 50%/50% de acordo com a maioria das pesquisas. Mas, novamente como a maioria dos norte-americanos, eles dão cada vez mais apoio a restrições. E pesquisas mostram que a grande maioria dos católicos praticantes são firmemente contrários ao aborto. Em qualquer caso, a maioria dos católicos, assim como a maioria dos norte-americanos, não apóiam a posição das CDDs.

 

Por que católica?

A pergunta óbvia para Kissling e as CDDs é: por que elas permanecem católicas?

A resposta é simples: por que não? Kissling insiste que ela quer reformar a Igreja. Ela afirma que não há posição católica sobre o aborto – e ela insiste que pode utilizar a Bíblia para prová-lo. Tais alegações lhe tem rendido inúmeros seguidores no lobby pró-aborto. Ron Fitzsimmons, diretor executivo da National Coalition of Abortion Providers, diz que “Frances Kissling é força reanimadora, incansável e articulada na defesa do aborto. Ela e sua organização tem um nicho único dado que uma larga percentagem de mulheres neste país que fazem abortos são católicas. Ela sempre tem sido uma inspiraçãos para mim”.

Mas o arcebispo Charles Chaput, de Denver, tem uma visão diferente. “[As CDDs] obtêm muito mais atenção do público do que seus membros merecem. Contudo, isto não é surpresa porque as CDDs serve a um utilíssimo propósito na vasta guerra de informação sobre o aborto. A Igreja Católica tem sido sempre a solitária e mais consistente defensora da vida e opositora ao aborto na cultura norte-americana. Assim, se você é ‘pró-escolha’, quebrar a credibilidade da Igreja torna-se a principal prioridade. Este é o valor das CDDs. É uma ferramenta a ser utilizada contra a Igreja Católica. Nada mais”.

Quando trata-se de ética sexual, Kissling declarou à revista masculina Nerve: “As pessoas já fazem o que elas sentem que é correto, e assim haveria pouca mudança no comportamento. Nós somos católicas, e utilizamos contracepção, fazemos abortos, pegamos AIDS e necessitamos de ajuda. A Igreja não está escutando, e isto nem é o caso de negligência benigna. Este é o caso onde nós precisamos de uma Igreja que posiciona-se para prevenir estas tragédias, e no momento a Igreja contribui para as mesmas”.

As CDDs fornecem seus próprios ensinamentos católicos. Além de sua declaração de que a Igreja não tem posição fechada no que diz respeito ao aborto, elas fundamentam a maioria de seus argumentos errôneos em um falso conceito de “consciência”. (“Consciência” é até mesmo o nome de sua principal revista trimestral.) As CDDs alegam que “a Teologia Católica diz aos indivíduos para seguir suas próprias consciências em matéria moral, mesmo quando esta consciência está em conflito com os ensinamentos da Igreja”. O Catecismo da Igreja Católica, claro, mostra um ensinamento bem diferente sobre consciência, alertando que “uma errada noção de autonomia da consciência poderia levar a julgamentos erroneamente guiados por esta mesma consciência”.

Entretanto, mesmo com todo o lobby e a agitação causada, Kissling não pensa realmente que a Igreja mudará em pouco tempo. “Nós não temos qualquer expectativa que seremos aceitas de braços abertos. Nós não estamos procurando por convite para sentar junto à mesa de jantar com os bispos”.

 

Abortando a Igreja

Dorothy A. Petke, que apóia as CDDs e é membra do grupo “católico progressista” Call to Action, explica como um católico pode ser pró-escolha (não ouse dizer “pró-aborto” perto de tais pessoas): “Eu planejei um adesivo de carros para a última eleição que diria ‘Vote pela Livre Escolha, E Escolha a Vida’, que é como eu penso que muitos pró-escolha sentem-se sobre este assunto. Nós não gostamos de abortos assim como qualquer outra pessoa, mas nós não gostamos que alguém que não esteja em nosso lugar nos dizendo o que devemos fazer com nossos corpos”.

Rosemary Stanek, presidente das CDDs da Califórnia, diz sobre a organização nacional à qual ela nem mesmo é formalmente ligada: “As CDDs não são ‘pró-aborto’. Somos dedicadas a preservar a capacidade das mulheres de tomar a decisão que é a mais moral para elas – abortar, criar a criança ou dá-la para adoção. O aborto deve ser legal, contudo, para que as mulheres estejam aptas a livremente tomar a decisão que suas consciências as levam a tomar”.

Em uma carta para a revista Newsday, a própria Kissling escreveu:

“Pró-escolha não é pró-aborto. Pessoas ‘pró-escolha’ tem muitas crenças diferentes sobre a moralidade do aborto. Para alguns é quase nunca moralmente justificável; para outros é muitas vezes moralmente justificável. No que eles concordam é que cada mulher deve pesar suas crenças e as circunstâncias sem a interferência do estado e tomar sua própria decisão.”

Majorie Reiley Maguire, que escreveu alguns dos primeiros materiais de propaganda das CDDs juntamente com seu então marido, o ex-jesuíta Daniel Maguire, diz hoje que as CDDs são anti-católicas e anti-mulher – e pró-aborto, apesar dos rodeios retóricos. Em uma carta para a National Catholic Reporter em 1995, ela escreveu:

“Várias experiências pessoais com as CDDs levaram-me a acreditar que sua agenda não é mais simplesmente defender a legalidade da escolha de uma mulher a abortar contra os esforços para re-criminalizar esta escolha. Ao invés disto, agora vejo a agenda das CDDs como a promoção do aborto, a defesa de cada decisão de abortar como um bem, como uma escolha moral, e a relacionada agenda de persuadir a sociedade a abandonar qualquer restrição moral sobre comportamente sexual. Eu não penso que isto é uma agenda católica ou pró-mulher, seja você liberal ou conservador, pró-vida ou pró-escolha.”

 

Compreendendo Kissling

Frances Kissling não é nenhum peso-leve. Ela é uma mulher preparada, expert em mídia, cujo conhecimento da Igreja Católica a faz indispensável aos grupos pró-aborto e à mídia. Em uma entrevista concedida à revista Merge, uma publicação na internet, Kissling disse: “Na maior parte de minha vida adulta, eu senti que a Igreja não era particularmente relevante para mim”. Falando sobre seu retorno à Igreja na revista das CDDs, Kissling admitiu: “Eu jamais retornei nos termos antigos”. É como “uma agente de mudança social” que ela é hoje uma “católica” – uma católica, ela disse, que não ora.

No artigo da revista Nerve, discutindo sexo e religião, Kissling deu aos leitores um breve vislumbre de sua vida:

“Eu cresci em uma família da classe trabalhadora. Tive vida intelectual e espiritual desde a infância. Minha mãe era divorciada e casada novamente; então, cedo eu rejeitei ensinamentos da Igreja que consideravam minha mãe como adúltera – eu sabia que minha mãe não iria para o inferno por fazer sexo com seu segundo marido. Eu nunca pensei muito sobre os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade. Eu entrei no convento com a idade de 19 anos e saí com 20 anos e tinha pouca experiência sexual – nenhuma relação completa, ao menos – anteriormente. Minha vida sexual tem sido moldada muito mais por meus desejos sexuais, minhas necessidades e meus parceiros do que pela religião. Ela tem uma dimensão espiritual, mas não uma dimensão religiosa. Eu realmente penso que Deus liga muito pouco sobre regras sexuais, sobre quem está dormindo com quem, mas sim que deseja que nos tratemos bem e com respeito uns aos outros.”

Algum tempo após deixar o convento, ela fez esterilização. “Para mim, engravidar seria uma enorme violação de minha integridade pessoal.”

Em 1970, Kissling dirigia uma clínica de abortos em Nova York, um dos dois estados que permitiam o aborto naquele tempo. Ela disse à Washington Post Magazine, em uma entrevista concedida em 1986, que a clínica fazia cerca de 30 a 40 abortos em dias de semana, e cerca de 70 a 80 aos sábados. Hoje, Kissling faz parte do conselho do Instituto Alan Guttmacher, que é intensamente pró-aborto.

Para alguém que gasta tanto tempo e energia tentando mudar a Igreja, Kissling parece não estar muito satisfeita com isto. Tudo o que ela diz em resposta às reprimendas oficiais da Igreja, é dito bem diferente a outros. Em uma mesa-redonda patrocinada pelas CDDs nas Nações Unidas em 1999, ela disse:

“Algumas vezes o que eu digo para mim mesma é que aquelas de nós que são feministas católicas, que trabalham para mudar esta instituição, são as que realmente fornecem a válvula de escape para que esta continue a ser uma instituição opressora, patriarcal, maligna. Assim como digo para as pessoas que me procuram, eu digo para mim mesma, ‘Talvez eu não devesse tentar’. Porque esta instituição está fatalmente defeituosa, e eu poderia ter mais sucesso na igreja episcopaliana, onde isto [o aborto] não é tão ruim; mas há tão poucos episcopalianos, não vale a pena.”

Isto vindo de uma mulher que alega estar “motivada por amor à Igreja e por um compromisso a uma visão da Igreja que respeita a consciência de cada indivíduo”.

Kissling quer ser parte da Igreja Católica, ela diz, sem se importar o quanto isto lhe seja “embaraçoso”. É, em parte, sobre poder, como ela explica à revista Merge:

“Minha experiência com católicos, eu mesma incluída, é que estas pessoas têm muito amor e orgulho na Igreja Católica – e que estas pessoas querem fazê-la uma Igreja melhor. Eles não querem deixá-la. Há também uma dinâmica de poder – é uma Igreja poderosa. E nós queremos ser parte dela. Mesmo quando a Igreja o deixa embaraçado, ainda há a vontade de estar associado a ela. Para alguns, é a tradição intelectual, o movimento da Teologia da Libertação, a forma com que a Igreja trabalha com os pobres – há muitas coisas que impedem os católicos dissidentes de formar uma outra igreja. Em certo sentido a Igreja é impotente para prevenir católicos de permanecer na Igreja e fazer o que eles pensam que é o certo. A Igreja não tomou iniciativa de excomungar mulheres que fizeram abortos, médicos que fazem abortos, políticos que têm posição pró-escolha – acaso eles irão excomungar Daniel Moynihan, Ted Kennedy, etc.? Desta forma, é totalmente possível permanecer dentro da Igreja e ter pontos-de-vista diferentes.”

Kissling tem uma visão do que a Igreja será dentro de uns 40 ou 50 anos. Em sua entrevista a Merge, ela expôs que a ordenação de mulheres deveria levar este tempo até ser permitida:

“Eu penso que isto levará tanto tempo até ser permitido; talvez 40 ou 50 anos. Primeiro precisamos que os homens casados possam ser ordenados; depois precisamos tratar da questão da sexualidade, e só depois, talvez, haja mulheres ordenadas. Eu espero que quando a Igreja estiver preparada para ordenar mulheres, que já tenhamos derrubado o sacerdócio – teremos, então, uma Igreja mais igualitária. Uma Igreja na qual não estaremos falando sobre quem é o sacerdote, nem falando sobre um sacerdócio permanente, elitista, mas de um modelo mais democrático de liderança da Igreja.”

 

Culpando aos bispos

Alguns olham a mais recente campanha de anúncios das CDDs e percebem para onde a organização está caminhando. No Dia Mundial de Combate à AIDS (1o. de dezembro) do último ano, as CDDs divulgaram anúncios em 50 paradas de ônibus e em 134 vagões de metrô em Washington, DC. Os anúncios dizem: “Porque os bispos proíbem os preservativos, pessoas inocentes morrem”, e “Os católicos preocupam-se. E nossos bispos? A proibição de preservativos mata”. No início do novo ano, as CDDs lançaram semelhantes anúncios na Bélgica, no Kenya, Zimbabwe, Bolívia, Chile, México e outros países.

Em um comunicado à imprensa, Kissling explicou sua campanha: “O Vaticano e os bispos de todo o mundo tem responsabilidade significante pela morte de milhares de pessoas que morreram de AIDS. Para os indivíduos que seguem a política do Vaticano e para as instituições da área de saúde católicas que são forçados a negarem preservativos, a proibição que parte dos bispos é um desastre. Nós não mais podemos esperar e permitir que a proibição permaneça sem questionamento”.

Desde então, ela tem feito o tour televisivo – incluindo a debate ao vivo com o presidente da Catholic League, William Donahue no programa da CNN “Crossfire”. Kissling não dá crédito a Igreja por fornecer cuidados médicos na África e outras partes do mundo que são muito atingidas pela epidemia de AIDS. E, de acordo com a Arquidiocese de Washington, DC, as organizações católicas fornecem 25% de todo o cuidado médico para os doentes de AIDS no mundo inteiro, fazendo da Igreja o maior provedor deste tipo de atendimento. Kissling culpa a Igreja por não corrigir seus ensinamentos para que sejam adequados ao comportamento de pessoas promíscuas. Mas, como Donahue disse em “Crossfire”, “Não há uma única pessoa na história do mundo que tenha morrido em virtude de uma doença sexualmente transmitida porque tenha seguido o ensinamento católico”.

Austin Ruse, presidente do C-FAM, um observador de longa data das CDDs e de Kissling, nota que “este novo assalto à Igreja terá nenhum impacto no ensinamento da Igreja relacionado à contracepção. A maioria dos católicos jamais ouviram sobre ela ou seu grupo ou sua campanha. Ela é conhecida e apoiada por um pequeno número de fundamentalistas pró-aborto e uns poucos camaradas na mídia. Seu impacto e o impacto de seu grupo é ínfimo”.

Enquanto que a mairia dos projetos das CDDs envolvem agitações de curta-duração, tais como distribuir preservativos no Dia Mundial da Juventude, Kissling pode fazer – e tem feito – dano significativo em áreas bem focadas. Por exemplo, ela conseguiu empreender uma bem sucedida campanha de atemorização contra o pró-vida e católico John Klink, que estava, segundo rumores, bem cotado para ser a escolha do presidente para o Bureau de População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado no último verão.

O trabalho mais importante de Kissling – particularmente aos olhos de seus principais apoiadores, o lobby abortista – pode ainda estar por vir. Morley Safer descreveu seu trabalho no programa “60 Minutes” como uma “cruzada para manter a doutrina católica longe da Medicina”. Há processos pendentes em vários estados para forçar alguns e, eventualmente, todos os 620 hospitais católicos dos EUA a fornecerem serviços proibidos pela Igreja. É uma área onde os “grupos feministas” e promotores do aborto mais precisarão de Frances Kissling.

O recentemente atualizado documento dos Bispos norte-americanos “Diretivas Éticas e Religiosas para Serviços de Saúde Católicos” requer que as organizações católicas que fornecem serviços de saúde não “se engajem em cooperação material imediata em ações que são intrinsecamente más, tais como aborto, eutanásia e esterilização direta”.

Grupos pró-escolha gostariam de ver chegar ao fim as fusões envolvendo hospitais católicos até que estes hospitais possam ser forçados a fornecer procedimentos que violam o ensinamento da Igreja. O “National Women´s Law Center”, um grupo jurídico pró-aborto, recentemente divulgou um artigo sobre as fusões de hospitais e “a ameaça aos serviços de saúde reprodutiva das mulheres”. Entre os grupos responsáveis pelo financiamento do folheto estava a Fundação Ford, a Fundação Packard, a Fundação Turner e a “Open Society Institute” – todos conhecidos apoiadores das CDDs. O folheto é um guia do tipo “como fazer” para que os procuradores do estado sejam convocados a fazer parte do esforço para que sejam quebradas as diretivas dos serviços de saúde católicos.

É possível – e provável – que as CDDs fiquem entre nós por um bom tempo, lançando “blitzes” midiáticas e artigos no New York Times, onde elas são regularmente rotuladas como a voz dos católicos dissidentes dos EUA. O Arcebispo Chaput conclui: “Para mim, as CDDs sempre têm sido as garotas-propaganda para o tipo errado de assimilação. São muito mais norte-americanas do que são católicas. As Escritura nos diz para sermos o fermento da sociedade e uma luz para as nações. As CDDs são a sobra que resta quando não se é nem uma coisa e nem outra”.

Kathryn Jean Lopez é editora executiva da “National Review Online” (www.nationalreview.com) e editora associada da “National Review”.

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