“Não chores tanto, menina, é apenas uma célula”

O texto que vai abaixo é uma tradução livre de um artigo publicado no jornal espanhol ABC. Nele, o jornalista Domingo Pérez traz a história de uma jovem que abortou seu filho pressionada pelo noivo e por sua mãe.

María de la Cuesta, a jovem que passou por esta dolorosíssima experiência, felizmente conseguiu reerguer-se do abismo de culpa e dor ao qual foi empurrada. Por suas palavras podemos bem sentir a confusão da cabeça de uma jovem que, por saber que carregava dentro de si uma vida, a vida de seu filho, rejeita a idéia do aborto, e que vê, com horror, aqueles de quem esperava compaixão e compreensão virarem-lhe as costas.

São histórias assim que não vemos contadas por feministas. Para elas, mulheres como a jovem María são fracas. As palavras da enfermeira que a atendeu – “Não chores tanto, menina, é apenas uma célula” – mostram a pior face do aborto: a desumanização do concepto.

Todo o discurso abortista vai sintetizado na frase da enfermeira que ia, qual um Pilatos de nosso tempo, lavar as mãos e ajudar no assassinato de um inocente. O “apenas uma célula” leva em seu seio a mentira, o descaso, a desinformação, o desleixo com a vida alheia, com uma vida em estágio bem frágil, mas plenamente humana como cada um de nós.

E é isto que os abortistas não conseguem esconder de todos, como não o conseguiram da confusa María: que o aborto é a eliminação cruel de um ser humano. Pouco importa o método, seja químico ou cirúrgico, e pouco importa o tempo, sejam 24 horas, 13 semanas ou 8 meses após a concepção, o produto final de um aborto é apenas um: um ser humano eliminado quando no estágio mais frágil de sua vida.

Deixemos o jornalista contar-nos a história de María… Deixemos, principalmente, que María conte-nos todo o drama que viveu, e compartilhemos a dor desta jovem que é, também, a dor de tantas jóvens, e que é a dor do nosso tempo.

Não chores tanto que é apenas uma célula

Por Domingo Pérez
(original aqui)

María de la Cuesta desejou contar-nos a terrível experiência pela qual passou quando, aos 17 anos, a obrigaram a abortar. E desejou contar dando-nos seu nome e sobrenome, orgulhosa de como conseguiu retomar sua vida, mas, ainda assim, com o coração na mão, a voz entrecortada e as lágrimas caindo de seus belos olhos “porque nunca te perdoarás e jamais te esquecerás de que mataste teu filho”.

A história de María é uma história terrível, mas comum. Encaixa-se no perfil mais comum das mulheres que interrompem voluntariamente suas gestações: menores de idade ou muito jóvens que engravidam e são obrigadas, contra suas vontades, a abortar por pressão de companheiros ou da própria família e por causa de sua situação socio-econômica. Não há cifras oficiais, mas os especialistas consideram que entre 75 a 80% das mulheres que passam por esta penosa experiência têm este perfil.

Onze semanas e três dias

Possui uma voz doce. Emociona-se quando relembra os episódios do drama pelo qual passou quatro anos atrás: “Por circunstâncias familiares, sai de casa bem jovem. Vivia com meu noivo e, após algum tempo, notei um atraso na menstruação. Fiz testes de farmácia e deram negativo. Pensamos que era algum desajuste hormonal, mas eu ainda me sentia estranha. Insistia que estava grávida. Meu noivo dizia que era uma gravidez psicológica. Acabamos por decidir ir ao ginecologista”.

“Após fazer a ultrasonografia — continua –, o médico disse-me que eu estava grávida de onze semanas e três dias. Aquilo foi uma tragédia. Eu queria continuar com a gravidez; meu noivo, não. Dizia que eu estava louca, que não tínhamos trabalho e nem dinheiro; que, se eu desse à luz, me deixaria… Procurei ajuda junto à minha mãe. Fui vê-la. Estava disposta a voltar a ficar com ela, apesar de todas as desavenças”. Mas sua resposta foi cruel: “Em minha casa não entras de barriga”. A pressão foi intensa. Ameaças de seu noivo, de sua mãe…

“Terminamos no clínico-geral. Ele nos disse que se desejávamos abortar deveria fazê-lo o quanto antes. Ele se encarregou de todos os trâmites. Como eu era menor de idade, deveria ir acompanhada de minha mãe. Meu noivo também foi. Eu não queria entrar na clínica. Praticamente fui arrastada. Não parava de chorar. O psicólogo falou para que me deixassem a sós com ele. Quando meu noivo e minha mãe saíram, eu implorei para que ele me ajudasse, que eu queria ter o bebê, pedi-lhe que não assinasse o documento”.

Era a terceira vez que ela pedia ajuda desesperadamente e a terceira em que lhe foi negada. Primeiro, por seu noivo, depois sua mãe e, finalmente, por um profissional da saúde, que, por sinal, era quem deveria dar autorização ao aborto.

“Disse-me que eu não me preocupasse, que ele se encarregaria de tudo, que me tranqüilizasse e que passasse à sala anexa”. Durou muito pouco a esperança. “Em seguida entrou uma enfermeira. Disse-me que tirasse a roupa e pusesse a camisola. Foi então que me dei conta de que ninguém iria me ajudar e comecei a chorar”. María faz uma pausa. A voz lhe falta. Seus olhos ficam marejados. “É que me dá tanta pena”, sussurra. Passam alguns segundos e retorna ao ponto em que parou: “Não parava de chorar e então a enfermeira me disse: ‘Não chores tanto, menina, é apenas uma célula. Não doerá. Apenas alguns minutos e pronto. Logo passa”. Neste exato momento eu quis sair do quarto. Procurar meu noivo, dizer-lhe que poderíamos dar a criança, que não era preciso abortá-la… Mas não me deixaram. Levaram-me à sala de cirurgia. Ali estava a cama e ali me colocaram. Chorava. Não parava de chorar”.

“Dizem que não dói. É mentira. A dor te acompanha toda a vida. O que fazemos nos pesa para sempre. Nunca te perdoas. Mataste a teu filho. Fora isto, sofri muitos efeitos secundários. Não parava de vomitar. Não conseguia alimentar-me. Tive muitas dores abdominais. Emagreci muitíssimo. Mas toda a dor física não é comparável à psicológica. Cada vez que olhava uma mulher empurrando um carrinho de bebê ou via uma mulher grávida ou mesmo crianças brincando na rua invadia-me uma tristeza profunda. Não podia deixar de pensar se meu filho teria sido menino ou menina, como teria sido seu rostinho, suas mãozinhas…”.

Nestes momentos de total desânimo, de profundo desespero, María tomou uma decisão bastante audaz: “Decidi que voltaria a engravidar tão logo passasse a convalescença”. Em segredo, esperando pacientemente que passassem estes dias de repouso recomendados pelos médicos, dedicou-se a buscar a ajuda que antes lhe havia sido negada.

Após 45 dias, encontrava-se novamente grávida, disposta a ser mãe a qualquer preço, a preencher o vazio enorme que sentia, a ter a seu filho vencendo a qualquer dificuldade. Desta vez tinha um passe de trem no bolso, que lhe haviam enviado, desde Madri, o pessoal da AVA (“Asociación de Víctimas de los Abortos”). “Ofereceram-me toda a ajuda necessária: o passe, uma boa acolhida, dinheiro, assistência psicológica e médica… No dia em que eu sairia de casa, com a mala já pronta, eu contei a meu noivo o que faria. Ele desabou. Pediu-me perdão. Disse-me que pensava então que haviámos feito o que era melhor, que se havia equivocado, suplicou que eu não o deixasse… Juntos, refizemos nossas vidas. Eu o perdoei. Eu perdoei a todos, menos a mim mesma”.

“Quando entrei na sala de parto, foi muito difícil. A cama utilizada é do mesmo tipo que se utiliza para abortos. A posição é a mesma. Quando deitei-me nela outra vez, não pude evitar reviver tudo aquilo novamente. Não podia deixar de pensar que era a segunda vez que ali me deitava e que na primeira vez tiraram meu filho morto de meu ventre. Não sou religiosa, mas daria qualquer coisa para que um dia pudesse reencontrar-me com a criatura que matei, pedir-lhe perdão, suplicar-lhe que me perdoe…”

María desfruta agora da presença de Paula, sua pequenina filha de quatro anos. “Um filho é tudo. Não me separei dela nem um minuto desde que nasceu. Quando estás sem rumo na vida, e disto eu entendo um bocado, teu bebê te dá um objetivo”.

“Decidi-me a contar minha experiência — reconhece — porque penso que quem procura ajuda, encontrará; mas, sobretudo, falta informação. É dada muito pouca informação e, se houvesse mais informação, muitas mulheres não abortariam, porque não é algo nem suave e nem indolor. É o pior dos assassinatos. O sofrimento é terrível. Teu filho, teu próprio ser, não morreu porque tenha ficado doente ou tenha sofrido um acidente, mas porque você decidiu eliminá-lo. Pesa em tua consciência por toda a vida. É cru, desta forma”.

Processo doloroso

Beatriz Mariscal, psicóloga especialista no tratamento a mulheres que passaram por este sofrimento, pensa que deveria ser mais comentada a “síndrome pós-aborto, mesmo que não esteja relacionada nos manuais de diagnóstico. Quase todas as mulheres passam por fases similares. Repetem-se em quase todas. Sofrem um stress agudo, uma profunda depressão. Quase sempre precisam de tratamento psicológico e psiquiátrico a base de medicamentos. Basicamente, passam por um doloroso processo, acentuado por um forte sentimento de culpa, motivado porque foram elas que causaram a morte de seus filhos”. Uma mulher que aborta irá passar, segundo a especialista, “antes ou depois, de acordo com suas características, por todas ou por algumas destas cinco fases: 1a.) o choque inicial, quando percebem o que realmente fizeram; 2a.) negação; 3a.) a ira (mostram-se irritadiças, perguntam-se inúmeras vezes: “por que isto acontecer comigo”) ; 4a.) depressão (sentem-se culpadas, e a apatia as domina); e 5a.) a aceitação. E então desejam ajudar outras mulheres na mesma situação, ou contar publicamente sobre tudo o que passou. Há de se ter muito cuidado, porque é muito freqüente que haja pessoas que desejem dar este passo antes ainda do recomendado e é necessário contê-las”.

O caminho para atingir o último estágio é longo. “Nunca menos de um ano de terapia — avisa Mariscal –, ainda que, na realidade, as seqüelas durem por toda a vida. Deve-se acompanhá-las quando voltam a engravidar e também quando se tornam mães, porque podem projetar em seus filhos os sentimentos de culpa, e mostrar uma excessiva proteção sobre eles.

Beatriz mostra que em suas pacientes encontra traços muito parecidos: “São mulheres a quem faltam valores, imaturas, instáveis, que atuam sob forte influência de pais, noivos ou parentes e que se vêem submetidas a uma intensa pressão social, econômica ou trabalhista”.

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