Quando pensamos em Mengele, é quase certo que imaginemos: “Ele não era um ser humano! Era um monstro!”. É compreensível, pois Dr. Mengele, além de decidir quem deveria morrer imediatamente ou deveria prestar trabalhos forçados até a morte, também selecionava aqueles que fariam parte de seus experimentos.
Os experimentos que Mengele fazia em judeus, ciganos, poloneses e outros eram tão desumanos que dão arrepios até nos corações mais duros. Desde a tentativa de mudar a cor dos olhos de um “paciente” através de injeções de substâncias químicas em seu olhos até a execução de grandes cirurgias e amputações sem qualquer anestesia, dr. Mengele fez de tudo com aqueles que lhe caíam nas mãos.
Sabe-se que o médico Josef Mengele, o monstro nazista do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, quando esteve escondido na Argentina nos primeiros anos da década de 50 do século passado utilizou seus conhecimentos médicos para uma única coisa: fazer abortos.
Dr. Mengele tinha um especial interesse por gêmeos. Há fontes que dizem que Mengele executou seus experimentos em aproximadamente 3000 gêmeos. A morte e a posterior dissecação pelo médico eram certas para tais gêmeos. Uma vez, Mengele costurou gêmeos ciganos na tentativa de criar gêmeos siameses artificiais. Desnecessário dizer o resultado da tentativa… Se alguém se dispõe a sequer imaginar tal coisa, é bom parar o quanto antes, pois o mundo de dr. Mengele não é coisa leve.
É difícil explicar como dr. Mengele atingiu tal patamar de degradação, de perversão, de indiferença quanto ao destino do próximo. É coisa que praticamente foge a qualquer explicação, pois ultrapassa até mesmo as barreiras do mais baixo ódio.
Mas uma coisa podemos afirmar sem qualquer possibilidade de engano: Mengele só fez tudo o que fez porque, em algum momento, ele conseguiu olhar para aquelas pessoas que chegavam às suas mãos — judeus, ciganos, católicos poloneses — e não mais vê-las como seres humanos. Para Mengele, ratos de laboratório e os gêmeos ciganos eram exatamente a mesma coisa.
Nenhuma surpresa, então, que Mengele, o criminoso de guerra foragido, se dispusesse a fazer abortos na Argentina. Para quem era capaz de executar uma cirurgia de grande porte sem dar anestesia alguma ao seu “paciente”, retalhar uma criança ainda no ventre de sua mãe era coisa pequena.
Para Mengele, em sua mente degradada por uma ideologia de raiz perversa — raiz esta comum a outra ideologia que ainda faz adeptos e vítimas pelo mundo inteiro e que causa frisson em tantos aqui na pobre América Latina –, em sua psique distorcida, um ser humano só adquiria “humanidade” quando ele próprio assim o decretava. Vem daí que o valor de uma vida humana, para Mengele, era assunto que ele resolvia consigo mesmo.
Vem daí que Mengele, no pós-guerra e na realidade de fugitivo, na impossibilidade de esperar, como em outras épocas, um vagão cheio de cobaias, dedicasse seu tempo ao singelo ofício de aborteiro.
Dr. Mengele, depois de indas e vindas por Argentina e Paraguai, acabou instalando-se no Brasil e aqui chegou ao fim de seus dias, no ano de 1979. Só então é que ficamos sabendo que tínhamos abrigado um monstro nazista entre nós, só então é que ele foi reconhecido como o Anjo da Morte de Auschwitz-Birkenau.
Deixemos Mengele no passado e avancemos até os dias atuais. Novamente estamos falando de médicos e também — vejam só! — de gêmeos. Em Recife, gêmeos de 16 semanas foram abortados sob a alegação de que era um direito de sua mãe, uma menina de 9 anos, estuprada pelo padrasto. Falaram também que a mãe-menina corria risco de morte, coisa que é difícil de acreditar, visto que ela recebeu alta médica da clínica onde estava para ser transferida para o local do aborto, e também porque já houve caso em que meninas de ainda menor idade deram à luz.
Bem, como é típico de quem não tem como justificar um ato, muita gente falou muita coisa. Falaram que a família da menina não teria condições de criar os gêmeos. ONGs várias apareceram para dizer que era um absurdo que a menina fosse “condenada” a levar a gravidez adiante. Pois é… Existe gente que acha mesmo que gravidez é punição. Provavelmete, dr. Mengele gostaria de tal afirmação.
Muito foi dito, mas o que muita gente não fez foi olhar para os gêmeos abortados como para o que eles realmente eram: seres humanos. Mengele fazia o mesmo com seus gêmeos.
Concebidos na violência dos baixos instintos de seu pai, o padrasto estuprador, a única coisa que os gêmeos possuíam neste mundo foi exatamente o que lhes foi roubado: sua humanidade. Somente olhando para um bebê ainda no ventre de sua mãe e lhe negando a humanidade é que tanta gente consegue, exatamente como Mengele, decidir quem deve ou não viver.
Mas é verdade que os tempos são outros… Quando dr. Mengele era aborteiro na Argentina, uma vez ele foi preso, pois uma de suas “pacientes” morreu após um aborto, que era e permanece ilegal na Argentina.
Aqui no Brasil é diferente… Um dos médicos responsáveis pelo aborto dos gêmeos de Recife, teve o prazer de ver o próprio Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, interromper a abertura de um seminário sobre Saúde da Mulher, para cumprimentá-lo. O médico, dr. Olímpio Moraes, foi aplaudido de pé pela platéia embevecida.
O médico, irônico como só ele e como a leveza que a situação parece exigir, fez pouco caso da excomunhão da qual foi alvo, segundo o Direito Canônico, e, erroneamente, agradeceu ao bispo, como se este é que o tivesse excomungado, e não ele próprio com seus atos. Mas entende-se o jogar a culpa no bispo: a platéia precisa de motivo para aplaudir, não é mesmo?
É curioso que Mengele também jamais se arrependeu de coisa alguma, mas isto deve ser apenas coincidência. Melhor assim…
Mas o caso é que não estaríamos muito longe da verdade se imaginássemos que Mengele, se vivo fosse, e com sua incrível capacidade de esconder seu passado nazista, escolhesse ser um aborteiro também entre nós.
Na Argentina ele foi preso — por pouco tempo, é verdade… — por esta prática. E no Brasil? Qual foi a última vez que alguém viu um aborteiro atrás das grades?
Que nada! Cá entre nós, não é difícil imaginar dr. Mengele sendo ovacionado de pé por uma platéia extasiada, que pouco se importa com o destino de duas crianças abortadas, e, esperando-o de braços abertos, um sorridente Ministro de Estado:
“– Dá cá um abraço, dr. Mengele!”