A reboque da lei favorecedora do aborto que foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff, veio, como sempre, a campanha de desinformação. Que abortistas fazem isto, não é novidade para qualquer pessoa, como há tempos vem acontecendo quando o assunto trata da Pílula do Dia Seguinte.
Fora as questões morais envolvidas, que também passam pela questão da contracepção artificial, a posição pró-vida baseia sua rejeição da utilização deste medicamento no fato de que este medicamento pode ser abortivo. A militância abortista brasileira vem conseguindo emplacar a mentira que tal medicamento trata-se apenas de uma medida cotraceptiva, sem dar a informação sobre a possibilidade de tal pílula causar um aborto. Como escrevi, até aqui não há novidade, pois a militância abortista conta e semeia a desinformação.
Em abril de 2009 fiz uma postagem aqui trazendo o que o próprio fabricante da pílula informava sobre os efeitos de seu produto: “Pílula do Dia Seguinte: Folha de São Paulo falha feio”. Na postagem eu colocava as palavras do próprio fabricante, que informa que “stopping a fertilised egg from attaching itself to the lining of the uterus” [“impede um óvulo fertilizado de implantar-se no útero”]. Ou seja, se já ocorreu a fertilização, já existe um ser humano, como já sabido pela Embriologia; e se há algum efeito externo que procura eliminar este ser humano já concebido, há a caracterização de um aborto, por mais imperceptível que este seja.
Mas é evidente que a militância faz cortina de fumaça para que ninguém saiba destes fatos e a Pílula do Dia Seguinte seja vista apenas como mais uma forma de contracepção.
Porém, quando um comentarista como Reinaldo Azevedo passa a reverberar esta desinformação podemos ver o alcance da mentira abortista. Este articulista escreveu sobre o assunto em uma postagem no qual ele defende que a lei aprovada pela presidente não terá efeito para a legalização do aborto; mais: diz mesmo que a lei, se bem aplicada, levará à diminuição do número de abortos. Eis o trecho:
“(…) trata-se do fornecimento gratuito da chamada “pílula do dia seguinte”, que impede a fecundação se ministrada até 72 horas após o ato sexual. A tal pílula não é abortiva e pode ser comprada em qualquer farmácia — aliás, já é amplamente distribuída pelo sistema público de saúde.” [Destaque meu]
Baseado em que Reinaldo Azevedo afirma que a pílula não é abortiva? Não se sabe… O que temos é que o próprio fabricante do medicamento informa sobre os efeitos abortivos do que produz.
Fora esta claríssima informação do fabricante, estudiosos já informam sobre o efeito abortivo da pílula, mesmo que evitem o termo, como pode ser lido no artigo “Emergency Contraception: A Last Chance do Prevent Unintended Pregnancy“, de autoria dos pesquisadores James Trussell e Elizabeth G. Raymond. Eis o que estes pesquisadores informam em seu texto:
“To make an informed choice, women must know that ECPs—like all regular hormonal contraceptives such as the birth control pill, the implant Implanon, the vaginal ring NuvaRing, the Evra patch, and the injectable Depo-Provera,88 and even breastfeeding89,90,91,92—prevent pregnancy primarily by delaying or inhibiting ovulation and inhibiting fertilization, but may at times inhibit implantation of a fertilized egg in the endometrium.“
[“Para fazer uma escolha consciente, as mulheres devem saber que a contracepção de emergência [Pílula do Dia Seguinte], como todos os contraceptivos hormonais tais como pílulas anticoncepcionais, implantes hormonais, anéis vaginais, adesivos hormonais, injetáveis e até mesmo a amamentação — previnem a gravidez através do adiamento ou da inibição da ovulação ou inibição da fertilização, mas pode também inibir a implantação de um óvulo fertilizado no endométrio.“] (Destaque meu)
Um medicamento, ao criar um ambiente intra-uterino desfavorável à implementação de um óvulo já fertilizado é um medicamento que pode causar um aborto. Ou seja, exatamente como já dito pelo fabricante, a pílula pode sim ser abortiva.
A informação trazida pelos pesquisadores James Trussell e Elizabeth G. Raymond não é novidade, como podemos ver em trecho do conhecido tratado de Embriologia Humana de autoria de Keith Moore e T.V.N. Persaud, “The Developing Human: Clinically Oriented Embryology (6th ed.)”:
“Inhibition of Implantation: The administration of relatively large doses of estrogens (“morning-after pills”) for several days, beginning shortly after unprotected sexual intercourse, usually does not prevent fertilization but often prevents implantation of the blastocyst. Diethylstilbestrol, given daily in high dosage for 5 to 6 days, may also accelerate passage of the dividing zygote along the uterine tube (Kalant et al., 1990. Normally, the endometrium progresses to the secretory phase of the menstrual cycle as the zygote forms, undergoes cleavage, and enters the uterus. The large amount of estrogen disturbs the normal balance between estrogen and progesterone that is necessary for preparation of the endometrium for implantation of the blastocyst. Postconception administration of hormones to prevent implantation of the blastocyst is sometimes used in cases of sexual assault or leakage of a condom, but this treatment is contraindicated for routine contraceptive use. The “abortion pill” RU486 also destroys the conceptus by interrupting implantation because of interference with the hormonal environment of the implanting embryo.”
[“Inibição da Implantação: A administração de grandes doses de estrogênio (“Pílulas do Dia Seguinte”) por vários dias, iniciando logo após a relação sexual desprotegida, geralmente não prevê a fertilização, mas na maior parte das vezes prevê a implantação do blastocisto. Diethylstilbestrol fornecido diariamente em alta dosagem por 5 a 6 dias pode também acelerar a passagem do zigoto em divisão pelo tubo uterino (Kalant et al., 1990). Normalmente, o endométrio progride para a fase secretora do ciclo menstrual logo que o zigoto é formado, passa pela clivagem e entra no útero. A grande quantidade de estrogênio perturba o balanço normal entre estrogênio e progesterona que é necessário para a preparação do endométrio para a implantação do blastocisto. Administração pós-concepção de hormônios para prevenir a implantação do blastocisto é por vezes usada em casos de violência sexual ou falha em preservativo, mas este tratamento é contraindicado para o uso rotineiro de contracepção. A “pílula abortiva” RU486 também destrói o concepto através da interrupção da implantação por causa de sua interferência no ambiente hormonal para a implantação do embrião.”] (Destaque meu)
Ou seja, o mecanismo utilizado pela Pílula do Dia Seguinte é por demais já conhecido pela Embriologia. Este atua exatamente ao criar um ambiente intra-uterino que impede a implantação do concepto, muito mais do que impede sua fertilização. O concepto é já uma realidade, a concepção já ocorreu e existe uma vida humana; se esta é alvo de uma deliberada tentativa de criar condições para que não se desenvolva, isto é exatamente um aborto.
No mesmo texto de Moore e Persaud, na parte de perguntas e respostas, podemos ver um trecho que deixa bem claro o que seja a Pílula do Dia Seguinte:
“[Question Chapter 2, #5 for students]:”#5. A young woman who feared that she might be pregnant asked you about the so-called “morning after pills” (postcoital birth control pills). What would you tell her? Would termination of such an early pregnancy be considered an abortion?”
[Answer #5 for students:] “Chapter 2 #5. Postcoital birth control pills (“morning after pills”) may be prescribed in an emergency (e.g., following sexual abuse). Ovarian hormones (estrogen) taken in large doses within 72 hours after sexual intercourse usually prevent implantation of the blastocyst, probably by altering tubal motility, interfering with corpus luteum function, or causing abnormal changes in the endometrium. These hormones prevent implantation, not fertilization. Consequently, they should not be called contraceptive pills. Conception occurs but the blastocyst does not implant. It would be more appropriate to call them “contraimplantation pills”. Because the term “abortion” refers to a premature stoppage of a pregnancy, the term “abortion” could be applied to such an early termination of pregnancy.“
[Questão do capítulo 2, #5]: Uma jovem mulher que teme estar grávida solicita a assim chamada “Pílula do Dia Seguinte” (pílula contraceptiva pós-coital). O que você diria a ela? Seria a interrupção de uma gravidez neste estágio inicial considerada um aborto?”
Resposta:Pílulas contraceptivas pós-coital (“Pílulas do Dia Seguinte”) podem ser prescritas em uma emergência (em seguida à violência sexual). Hormônios ovarianos (estrogênio) ministrados em grandes doses dentro de 72 horas após a relação sexual geralmente previnem a implantação do blastocisto, provavelmente alterando a mobilidade nas trompas, interferindo na função de corpo lúteo ou causando mudanças anormais no endométrio. Estes hormônios previnem a implantação, mas não a fertilização. Conseqüentemente, eles não deviam ser chamados pílulas contraceptivas. A concepção ocorre, mas o blastocisto não é implantado. Seria mais apropriado chamar-lhes “pílulas contra-implantação”. Devido ao termo aborto referir-se a uma interrupção prematura da gravidez, o termo “aborto” pode ser aplicado para tal término prematuro da gravidez.“] (Destaque meu)
Difícil ser mais claro que isto sobre o que realmente seja a Pílula do Dia Seguinte… Como os autores Moore e Persaud deixam explícito, até mesmo o termo “aborto” pode ser aplicado para o possível resultado da utilização de tal medicamento. Ou seja, quando Reinaldo Azevedo e outros dizem que a Pílula do Dia Seguinte não é abortiva, simplesmente não sabem do que estão falando. Estão apenas juntando-se ao côro dos que procuram desinformar a população e, principalmente, as mulheres que serão as que mais sofrerão com esta bomba hormonal que é tal medicamento, sem que sequer lhes seja dito da possibilidade de tal produto causar abortos na fase inicial da gravidez.
Especificamente sobre o jornalista Reinaldo Azevedo, digo que não é a primeira vez que ele escolhe o lado mais fácil na defesa da vida. Em fevereiro de 2009, publiquei aqui no blog um texto no qual mostrei a forma vergonhosa com que ele se prestou a varrer para debaixo do tapete toda a sujeira publicada por Veja sobre a questão do aborto. No mesmo texto, mostrei como o jornalista também deixou-se levar pelo corporativismo interno à publicação para a qual trabalha quando ficou tecendo louvores à isenção e preparo de Mayana Zatz ao lidar com o tema da liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias. Ao final, quando ficou clara a intenção dos que buscavam a liberação de tais pesquisas, o jornalista lançou um apelo patético dizendo que se havia enganado sobre a ligação entre a liberação de tais pesquisas e o aborto:
“COMO VOCÊS SABEM, RESISTI MUITO A LIGAR UMA COISA A OUTRA. PARA MIM, NO PRÓPRIO VOTO DE BRITTO HAVIA UMA MANIFESTAÇÃO ANTIABORTO, QUANDO ELE LEMBROU QUE O EMBRIÃO, NO ÚTERO, SEM INTERVENÇÃO, RESULTA NUM NOVO SER. EU ESTAVA ERRADO. O ABORTO, PARA ALGUNS, ESTÁ EM VOTAÇÃO.”
Pois é… E isto após ele ter demonizado os que pensavam contrários a ele e ter elogiado da forma mais açucarada exatamente aos que procuravam a liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias, que era mais uma etapa para a liberação do aborto. Ele chegou mesmo ao ponto de negar a plena humanidade de embriões concebidos in vitro mas não ainda implantados. Pelo jeito para ele tudo vale para defender uma posição, mesmo que tenha que escrever coisas tão absurdas como esta.
Reinaldo Azevedo engana-se mais uma vez em relação ao PLC 03/2013, e engana-se principalmente ao dizer que a Pílula do Dia Seguinte não é abortiva, quando o próprio fabricante afirma a possibilidade de que ela seja sim abortiva. Da mesma forma, pesquisadores autores de livro de referência na área de Embriologia Humana afirmam que este medicamento pode sim ser abortivo, mesmo quando ministrado dentro de 72 horas após a violência sexual ou relação consentida.
O que há sobre a Pílula do Dia Seguinte é o que vai acima. Seu mecanismo de atuação é por demais conhecido. Se a campanha de desinformação atinge até mesmo uma pessoa como Reinaldo Azevedo, é sinal que nossa luta pela informação correta tem ainda muito caminho a percorrer.
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