É aqui que as coisas começam a complicar… A defesa da vida não admite nuances, não admite “mas”, “no entanto” e outras saídas estratégicas. Se fulano diz-se pró-vida MAS admite o aborto em alguma circunstância, não podemos admiti-lo como verdadeiro pró-vida.
Marina Silva foi uma petista referência, era reconhecida como uma das reservas éticas do PT — se é que se pode falar de ética e PT na mesma frase. Admitindo-se que Marina Silva seja uma real defensora da vida, o que então ela fazia no meio de toda aquela turma da pesada? Quais foram as brigas que ela comprou para levar a causa pró-vida à frente? Será que ela veio à público — e olhem que a mídia simplesmente a ADORA! — para posicionar-se firmemente contra as resoluções petistas que levaram o partido a alavancar a busca pela legalização do aborto no Brasil? Não tive conhecimento de nada disto…
Ou seja, Marina Silva é uma líder internacionalmente reconhecida por suas posições preservacionistas, foi Ministra de Estado, é Senadora da República, e, mesmo assim, jamais pudemos ver algo de relevante que ela tenha feito pela causa pró-vida?
Admiro que ela tenha a coragem de se dizer defensora da vida, mas por que é que ela não dá a prioridade que isto deve ter? Por que, afinal, ela jamais se incomodou com a opção pela Cultura da Morte que o partido que ela tão dramaticamente relutou em deixar sempre fez?
A ex-ministra, atualmente sem partido, deu uma entrevista à revista Veja na qual podemos ver o que vai em sua cabeça. E, após ler suas respostas às perguntas que lhe foram dirigidas, posso afirmar com mais convicção ainda: Marina Silva, se eleita presidente, será péssimo.
Primeiramente, é bom que atentemos para os motivos que finalmente causaram a saída da senadora do PT. Eis o trecho em que tal assunto foi abordado:
Veja – A crise moral que se abateu sobre o PT durante o governo Lula pesou na decisão?Marina Silva – Os erros cometidos pelo PT foram graves, mas estão sendo corrigidos e investigados. Quando da criação do PT, eu idealizava uma agremiação perfeita. Hoje, sei que isso não existe. Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido, mesmo porque eles foram cometidos por uma minoria. Saí do PT, repito, por falta de atenção ao tema da sustentabilidade.
Ou seja, a senadora assistiu de camarote ao espetáculo anti-ético do (des)governo petista e isto a incomodou bem pouco. E ela, que é apontada pela mídia como um baluarte da ética esquerdista, se sai com a mesma desculpa para os métodos criminosos de seus agora antigos correlegionários: as faltas gravíssimas (não são apenas graves…) “estão sendo corrigidas e investigadas”.
Tal desculpa poderia ser colocada na boca de Tarso Genro, de José Dirceu ou de Delúbio Soares e ninguém sentiria qualquer diferença.
Causa-me uma profunda estranheza uma pessoa que é apontada como exemplo ético dizer que “Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido”, como se tais “tropeços” fossem coisa de pouca monta. As acusações são gravíssimas: compra de votos, quebra de sigilo bancário, etc. E são essas acusações que para a senadora não têm peso algum quando comparados ao tema sustentabilidade?
Daqui a pouco podemos imaginar que, para a senadora, tudo bem comprar votos, tudo bem quebrar sigilo bancário de caseiros, tudo bem carregar dólares nas cuecas, etc. Isto tudo vai muito bem, desde que as matas sejam preservadas? É isto mesmo?A mim me parece que, para quem é retratada como um símbolo ético da esquerda, a ex-ministra carece de uma profunda falta de prioridades ou mesmo de inversão de valores
E agora vem a parte na qual a senadora tratou diretamente da questão do aborto.
Veja – A senhora é contra todo tipo de aborto, mesmo os previstos em lei, como em casos de estupro?
Marina Silva – Não julgo quem o faz. Quando uma mulher recorre ao aborto, está em um momento de dor, sofrimento e desamparo. Mas eu, pessoalmente, não defendo o aborto, defendo a vida. É uma questão de fé. Tenho a clareza, porém, de que o estado deve cumprir as leis que existem. Acho apenas que qualquer mudança nessa legislação, por envolver questões éticas e morais, deveria ser objeto de um plebiscito.
Do ponto de vista pró-vida, esta curta resposta da senadora é um desastre completo.
E Marina Silva vai muito errada ao pensar genericamente que todas as mulheres que recorrem ao aborto estão passando por momentos de “dor, sofrimento e desamparo”. A ex-ministra deveria parar um pouco de olhar para a mata e ver o que acontece entre os militantes abortistas, os mesmos militantes que infestaram seu ex-partido; devia tentar ter um pouco de contato que seja com a realidade de um movimento que escondendo-se sob o manto de defesa das mulheres mais humildes — uma mentira deslavada que só serve para enganar os incautos –, quer na verdade é servir a interesses internacionais para a liberação pura e simples do aborto.
A depravação jocosa de tal militância abortista é tamanha que chegam ao cúmulo de lançar peças de vestuário com slogans abortistas. Ou seja, a senadora deveria procurar se informar mais sobre o assunto antes de ficar papagaindo frases feitas divulgadas pela militância abortista.
Em seguida, em sua péssima resposta, a senadora repetiu uma frase que já ouvimos praticamente igual da boca do presidente Lula: “Mas eu, pessoalmente, não defendo o aborto, defendo a vida. É uma questão de fé.”. Parece que esta é a senha petista — e, pelo jeito, ex-petista também — para logo em seguida jogar uma bomba: “Tenho a clareza, porém, de que o estado deve cumprir as leis que existem.”.
Este é praticamente o mesmo método utilizado por Lula para lidar com a questão do aborto. Começa dizendo-se pessoalmente contrário à cruel prática e acaba lavando as mãos com a desculpa que tem que cumprir a lei.
Todos sabemos bem a importância que tem Lula dizer-se pessoalmente contra o aborto: NENHUMA! Ao dizer-se pessoalmente contrário ao aborto, Lula apenas quer passar uma idéia de que ele é íntegro nesta questão. Só que o avanço que a busca pela legalização do aborto teve em seu governo demonstra claramente que Lula declara-se contrário ao aborto apenas para confundir aos desavisados. Este fato já foi abordado aqui neste blog mais de uma vez.
Voltando a Marina Silva, é de surpreender sua pouca disposição na defesa da vida. Nos EUA, todos políticos que realmente são pró-vida sabem que há a necessidade de mudança da legislação que abriu as portas para a legalização do aborto. Lá não existe isto de se dizer defensor da vida e abaixar a cabeça para uma legislação que promove a morte.
De um político, de um legislador que queira assumir a luta pró-vida, espera-se que ele ou ela tenha disposição para tentar modificar a legislação de forma que a vida seja preservada desde a concepção até seu fim natural. Se é para ficar no imobilismo bovino de que a lei existente deve ser cumprida, o legislador serve à causa bem pouco.
A defesa da vida exige radicalidade e seria muito bom que os políticos tivessem a coragem de assumir tal radicalidade, pois a população brasileira é esmagadoramente contrária ao aborto. Por que, então, tal falta de disposição para a boa luta?
O que fica claro quando lemos a péssima resposta da senadora é que ela, quando o assunto é defesa da vida, fala como uma petista da estirpe de Lula, e isto, para o movimento Pró-Vida é péssimo, é desastroso. De que nos adiantaria outro presidente “pessoalmente” contrário ao aborto, se isto de nada vale tanto para buscar modificar a legislação existente quando para evitar favorecer os avanços da Cultura da Morte?
Quando o assunto é aborto, não precisamos de outro Lula, que teve a cara-de-pau de escrever a bispos reiterando seus “princípios cristãos” enquanto seus comandados atuam com todas as forças pela liberação do aborto.
Por fim, a senadora fala de um plebiscito sobre a questão do aborto. E ela diz que isto deveria ser assim por se tratar de uma questão que envolve ética e moral.
Isto é mais um indício de que Marina Silva está lidando com o tema com extrema ligeireza. É exatamente por ser uma questão que envolve ética e moral que isto não deveria ser tratado em plebiscito. Se determinada coisa é imoral e aética, como é o aborto, não é a vontade da maioria que mudará estes seus péssimos atributos. Não se estará decidindo a forma de governo ou o porte de armas, estaremos decidindo o direito de seres humanos viverem.
A ex-ministra deveria saber bem que moralidade não é assunto para votação popular, mas parece já ser um cacoete esquerdista sul-americano lançar plebiscitos para mascarar o mal de certas ações.
Resumindo, a resposta da senadora Marina Silva foi péssima em todos os sentidos e não consigo ver como uma pessoa que só repete a enganadora fórmula já usada com sucesso por Lula possa contribuir significativamente para a defesa da vida.