Homem contratou uma “barriga de aluguel” e depois quis obrigá-la a abortar

Melissa Cook, norte-americana de 47 anos e que já é mãe de 4 filhos, foi contratada por um homem de 49 anos, solteiro e que ainda vive com seus pais, para ser a barriga de aluguel de um bebê concebido com o esperma dele e o óvulo de uma jovem doadora de 20 anos.

Como infelizmente é prática na indústria de fertilizações in vitro, são implantados mais óvulos fertilizados do que o número desejado de bebês, pois conta-se que nem todos sobreviverão ao processo. No caso de Melissa, todos os três embriões implantados sobreviveram e, o que deveria ser uma alegria no meio de todo este artificialismo, tornou-se o início de um pesadelo para ela.

O homem que a contratou não queria que ela levasse até o final a gestação dos três bebês que carrega em seu ventre. Ele exigia que ela abortasse ao menos um deles, provavelmente porque sabe dos riscos envolvidos em tais gestações. E é bom que se diga que ele nem mesmo pretende ficar com dois bebês. Ele quer ficar com um deles e encaminhar o outro para adoção.

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Melissa Cook

Melissa rejeitou a proposta de seu contratante e pretendia ficar com o terceiro bebê. Ele, não concordando com isto, então acionou seu advogado e a ameaçou com processos e pedidos de indenizações altíssimos, o que causaria a ruína financeira de Melissa.

O que podemos dizer sobre isto? Muitas coisas e, infelizmente, nada é bom. Em primeiro lugar, quando se cria todo um comércio envolvendo vidas humanas, pode-se contar que novos e complexos problemas virão junto. Ciência e tecnologia sem preocupações éticas levam ao estado de coisas que podemos ver neste caso, que nem é tão incomum e que só apareceu na mídia porque Melissa procurou a imprensa ao se ver pressionada a abortar um de seus bebês.

O homem, o contratante – curioso termos que utilizar “contratante” em vez de “pai” -, por algum motivo abdicou de tentar ter filhos pelas vias naturais e resolveu tornar todo o processo um verdadeiro comércio, envolvendo contratos, advogados, leis, indenizações, etc. Idealisticamente, bebês deveriam vir a este mundo como frutos do amor de seus pais. Sabe-se, porém, que isto nem sempre acontece. Filhos são gerados em momentos inesperados, em condições não ideais e por pais que sequer se amam, mas uma coisa permanece sempre inalterada independente da forma como somos concebidos: nossa dignidade. E é esta dignidade que o pai/contratante quis comprar e tornar mero objeto de comércio. Para ele, o terceiro bebê é apenas uma “mercadoria excedente”, uma “ponta de estoque”, que pode ser perfeitamente descartada. Ele nem mesmo aceita que Melissa fique com o bebê, pois deve temer um futuro pedido de pensão.

Melissa, que se viu sendo absurdamente pressionada a abortar um de seus trigêmeos, já havia sido barriga de aluguel no passado. É de se imaginar que ela já tenha passado por este processo de ver mais embriões sendo implantados em seu ventre do que os que efetivamente viriam à luz. Como será que a “redução” (nome dado ao processo) ocorreu? Foram os embriões descartados? Foram congelados e aguardam descarte? “Descarte” é, claro, apenas um eufemismo para o ato de matar.

Um outro ponto interessante é ver que Melissa, mesmo vivendo em um país no qual as mulheres têm o tal “direito de escolha”, está sendo absurdamente pressionada a abortar um bebês. Onde, afinal, está o tal “direito de escolha” de Melissa? Não se sabe de qualquer entidade feminista que tenha se disposto a lutar pelos direitos de Melissa em manter sua gestação, mesmo que ela esteja sendo pressionada por um homem a abortar! Por um homem que utiliza seu poderia financeiro para mandar no corpo de uma mulher e no destino dos bebês que ela carrega em seu ventre. E não há uma feminista que venha a público e diga que isto é um verdadeiro absurdo. Ou seja, parece – parece? – que o feminismo atual só se importa com mulheres que querem abortar, mas não com as que querem manter suas gestações, principalmente quando estão sendo tratadas como meras mercadorias por homens financeiramente abastados.

Enfim, todo o caso é bizarro, mas, infelizmente, nem é tão incomum. Ativistas que advogam contra a fertilização in vitro informam que o caso de Melissa é um dos raros no qual a “barriga de aluguel” resolveu publicamente lutar pela vida dos bebês em gestação. Imagina-se que inúmeros outros casos ocorram, que muitas sejam pressionadas a abortar e aceitem o fatal destino para os bebês que carregam em seus ventres.

Felizmente, o caso todo agora está caminhando para um término menos traumático, pois Melissa entrou com medida judicial para fazer valer seu direito de manter a gestação e o contratante parece ter desistido de lutar pelo aborto de um de seus filhos. O problema não irá terminar, porém, e provavelmente haverá briga judicial pela guarda das crianças. O advogado do contratante agora tenta colocar a culpa de toda a confusão em grupos anti-aborto e contrários à fertilização artificial, pois, segundo ele, tais grupos teriam se aproveitado do caso de Melissa. Pois é… O contratante paga uma mulher para carregar seus filhos e, quando algo sai diferente do que ele havia cuidadosamente planejado, pressiona-a a fazer um aborto, ameaçando-a com a ruína financeira, e quem está se aproveitando da mãe de aluguel são os grupos que procuram que toda esta bagunça ética tenha um fim? Mesmo sendo isto papo de advogado, há limites para o ridículo.

Casos como este devem servir de alerta para que pensemos nos problemas éticos criados por certos avanços tecnológicos. A dignidade do ser humano jamais deve poder ser fonte de comércio. O poder fazer não equivale necessariamente ao correto a ser feito. Caso como o relatado aqui é apenas uma pequena amostra do que vem ocorrendo em várias partes do mundo, e infelizmente muita gente evita sequer pensar no assunto.

A própria Melissa Cook, no meio de toda a batalha judicial, declarou que todo o processo que regula a utilização de barrigas de aluguel na Califórnia (estado dos EUA onde ela vive) deveria ser examinado e reconsiderado. Ela disse também que não mais vê todo o arranjo de aluguel de ventres com a luz favorável com a qual via anteriormente.

Para finalizar, não devemos jamais esquecer que, no meio de tudo isto, de toda esta batalha de egos e interesses financeiros, existem três crianças cujas vidas são tão dignas quanto a de qualquer um de nós. E esperemos que, após este início tortuoso, suas vidas sigam de forma mais suave.

 

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Fontes:

Contrata a una madre de alquiler y luego la denuncia para obligarla a abortar a uno de sus trillizos

Surrogate carrying triplets sues to stop forced abortion

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