Para quem acompanha a questão do aborto, ficou nítida, principalmente durante os governos petistas, a mutação que houve no discurso da militância abortista.
Se na Europa e nos EUA os que defendem o aborto batem firme que o aborto é uma questão de autonomia feminina, devido principalmente ao protagonismo do feminismo e sua obsessão pela total liberação do aborto, por aqui no Brasil este discurso do “Meu corpo, minha escolha” não colou muito e não acha apelo junto à população.
Como então o abortismo conseguiria que seus objetivos obscuros encontrasse alguma brecha junto aos anseios da população? Simples: seguindo seu método corriqueiro, os defensores da liberação do aborto começaram a mudar o discuso para colá-lo ao problema de Saúde Pública, um dos que mais afligem a já tão sofrida população brasileira.
Não é novidade alguma que os abortistas usam a mentira como método, criando dados, usando um discurso nebuloso, plantando notícias e falsas estatísticas na mídia, etc. Este procedimento não é novo, tendo até sido denunciado pelo dr. Bernard Nathanson, um médico que, após ter sido um ferrenho apoiador e feito mais de cinco mil abortos, converteu-se em líder pró-vida, sendo responsável pelo famoso documentário “O grito silencioso”. Dr. Nathanson contou em detalhes como ele e demais defensores do aborto falsificavam dados, aumentando absurdamente os números relacionados ao aborto, com o objetivo de ir cada vez mais flexibilizando a opinião pública norte-americana.
Então não deve causar surpresa que o abortismo à brasileira tente emplacar por aqui que o aborto é um problema de Saúde Pública. Há pouco menos de 1 ano, a deputada Jandira Feghali jogou a mentira, e teve de se corrigir, que morriam 1 milhão de mulheres por ano no Brasil devido a abortos ilegais. Também a revista Veja, reconhecidamente favorável à liberação do aborto, já participou da mentira sobre o número de abortos no Brasil.
O caso é que o abortismo, quando repete ao infinito que “Aborto é problema de Saúde Pública!”, tem um alvo bem claro à sua frente, que é flexibilizar a rejeição ao aborto da maioria da população brasileira.
Mas há algo que atinge em cheio as pretensões dos defensores do aborto: a realidade. Eles podem criar números fictícios, mas não conseguem que a realidade lhes acompanhe. Jandira Feghali pode divulgar que 1.000.000 de mulheres morrem por ano devido a abortos ilegais, mas ela não consegue produzir 1.000.000 de corpos.
E é a realidade que nos traz uma simples consulta aos dados do DATASUS. No quadro abaixo, constam os dados sobre mortalidade materna disponíveis no banco de dados do DATASUS, que podem ser consultados online. A ordem de classificação das linhas é segundo o total do número de mortes entre os anos de 1996 a 2013, que é o ano do último dado disponível.
Em destaque, indicado com uma seta vermelha, está a linha onde estão disponíveis os dados sobre mortes causadas por falhas em tentativas de aborto. Pois bem, entre os anos de 1996 e 2013 houve 184 mortes, o que dá uma média de 10,22 mortes anuais por este motivo.
Esta causa de mortalidade materna ocupa a 28ª posição entre todas as causas elencadas nos dados do DATASUS. Ou seja, é bem complicado que alguém diga que o aborto clandestino seja a principal causa de mortes maternas no Brasil, pois há 27 outras causas à sua frente.
E pior: dentre as causas que mais matam as mulheres estão causas que poderiam ser eliminadas ou minimizadas. Volto a escrever aqui o que escrevi em 2013:
“Entre as campeãs da mortandade materna estão causas que poderiam ser resolvidas com um pré-natal de qualidade paras as mães, as devidas condições higiênicas nos hospitais, a disponibilização de mais hospitais para a população, o melhor treinamento do pessoal da área médica, etc. Se a Folha e seus parceiros abortistas estão mesmo tão preocupados com a saúde das mulheres como dizem que estão, não era de se esperar que esta turma desse muita atenção também às outras causas que mais matam as mães brasileiras? Ou será que as únicas mulheres que este pessoal quer salvar são as que procuram abortas seus filhos?”
“A única vontade que há é de liberar o aborto, isto nada tem a ver com ajudar mulheres. Se desejam mesmo ajudar as mulheres que morrem devido a complicações na gravidez, há 28 causas a serem atacadas antes que as mortes por aborto procurado tenham vez, mas não é o que acontece, claro. Se desejam mesmo ajudar as mulheres, olhar para os dados que já existem e que são coletados pelo próprio governo seria um bom ponto de partida.
O grande mistério é que haja tanta gente para falar de aborto como problema de Saúde Pública enquanto simplesmente ignora dezenas de outras causas de mortes maternas que poderiam ser minimizadas e ter um impacto considerável na vida de outras mulheres. Mas o que parece ficar claro mesmo é que para muitos a vida das mulheres e de seus filhos são detalhes a serem sacrificados no altar de uma ideologia. A autora da reportagem fala que o “mistério” do número de abortos no Brasil é devido a um “silêncio que mata”, mas o que mata mesmo é a confusão que certos órgãos de imprensa e associações de classe ajudam a criar.”
Ou seja, nada mudou. O número de mortes maternas continua, na prática, ocupando a mesma posição que há anos ocupava. Há muitas outras causas que poderiam ser atacadas e que teriam um impacto significativo para a queda deste índice de mortalidade. Não haveria qualquer problema ético ou moral a ser resolvido para lidar com vários fatores que causam bem mais mortes que abortos feitos de forma ilegal. Bastaria vontade, disposição e trabalho.
Mas o que nossos governantes, formadores de opinião e a mídia, todos sempre incitando e regurgitando o discurso da militância abortista mais fazem é continuar a gritaria que “Aborto é questão de Saúde Pública!” enquanto milhares de mulheres morrem por outras causas que teriam uma solução muito mais simples. Mas tal solução não serviria aos reais objetivos dos que desejam a liberação do aborto no Brasil e que se dizem tão preocupados com as mulheres.