“O que há com todo mundo? É dos meus filhos que estamos falando!”

O aborto discriminatório, contra pessoas deficientes, assassina brutalmente a vida daqueles que mais precisam do nosso apoio e aceitação.

Todo filho, portador ou não de alguma deficiência, faz com que os pais cresçam em amor. Ao negar a uma criança o direito de nascer, negamos também aos pais a possibilidade de serem pessoas melhores e mais humanas; ao fim, o eugenismo não torna a sociedade melhor, mas sim, cruel.

O testemunho de Mari Luz e Emilio atesta o mal da mentalidade eugenista e o quão errado estão os que defendem o aborto.

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Por Esperanza Puente:

Um dos casos mais estremecedores que encontrei foi a de um matrimônio que tentava ter filhos e não conseguia. Ela se chama Mari Luz e ele Emílio, de 34 e 38 anos respectivamente. Eles acabaram se submetendo a fecundação in vitro. Depois de muitas tentativas e gastar um bom dinheiro, chegou a grande notícia: finalmente ela estava grávida! E ainda mais: de gêmeos!

A família toda estava feliz, até que lhes propuseram fazer o teste de amniocentese, pois de acordo com o seu médico, era uma gravidez de alto risco.

Em determinadas circunstâncias se confia cegamente na palavra de um médico, mais do que na de um notário, tal como aconteceu com esse casal.

Mari Luz, sem informação suficiente, pois o médico não lhe explicou os riscos de aborto que esse teste tem, se submeteu.

Foi uma espera cheia de incertezas, já que poderia dar resultados negativos. Viveram momentos angustiantes, de nervosismo e indecisão: “Passaram por nossas cabeças todas as possibilidades, porém você nunca realmente está preparado para receber uma notícia como aquela.” Depois de uma espera cheia de ansiedade, lhes dizem: “Seus filhos vêm doentes, com Trissomia 21.” Dito assim, souberam de imediato que aquilo era qualquer coisa, menos bom. O médico lhes explicou que se tratava da Síndrome de Down, nos dois casos. Que horror! Por quê?! O médico os deixou sozinhos por um momento para que processassem a notícia. Finalmente, lhes ofereceu induzir o parto no dia seguinte, as 9:00 da manhã; como os seus filhos não eram viáveis, morreriam. Por mais que se use muita linguagem terapêutica, às vezes os pais não se veem que se trata de mais uma operação médica, e na mente de Mari Luz ficou gravado apenas “Vão morrer! Vão morrer! Vão morrer!”

Ela não conseguiu pronunciar qualquer palavra; no caminho para casa permanecia em silêncio, em sua mente seguia ressonando “Vão morrer! Vão morrer!”
Quando chegou, a mãe e dois de seus irmãos a estavam esperando; mas pela cara dela, viram que era melhor não perguntar muito, percebendo que algo grave acontecia.

Emílio a acompanhou ao quarto e lhe deu um comprimido para que pudesse descansar e parar de pensar. Depois, ele foi para sala e explicou aos que ali estavam o que acontecia. Imediatamente, surgiu a pergunta “O que vocês vão fazer agora? Vocês não vão ter esses filhos, não é? É um peso! Vocês se hipotecariam, vocês tem que pensar bem nas coisas.”

Às vezes falamos e damos conselhos sem que ninguém nos peça. Que fácil opinar sem saber primeiro o que sentem exatamente os pais e, desde logo, sem lhes dar tempo para que reajam diante de uma notícia dessa magnitude.

É incrível que hoje em dia não se possa confiar em muitos médicos, embora eu acredite que é uma questão de sorte, de encontrar médicos que não se esqueçam do porquê quiseram sê-lo e, claro, tenham em conta o seu juramento hipocrático.

Pode ser, do jeito que as coisas estão, que os médicos tenham a obrigação de informar que existe um teste como a amniocentesis, embora não acredite que eles tenham a obrigação de mentir, manipular ou “aconselhar” a paciente para que aborte, em caso do resultado de tal teste ser uma provável má-formação.

Emilio ficou consternado ao ver que todos se colocavam a opinar sem parar para pensar em como se sentiam ele e a sua mulher. Aliás, como às vezes acontece, o efeito de tantos diagnósticos catastróficos foi o contrário do desejado.Emilio começou a pensar: “O que há com todo mundo? É dos meus filhos que estamos falando!” Imediatamente mandou a família embora e decidiu ir se aconchegar ao lado de sua esposa. Não foi preciso falar sobre isso, os dois já haviam tomado uma decisão.

Contra tudo e contra todos, decidiram ir adiante com a gestação. O que aconteceu logo em seguida foi uma tempestade de repreensões, o casal se sentiu quase estigmatizado em sua própria família e em seu círculo de amizades. Incompreendidos e censurados pela decisão que haviam tomado, viveram o tempo da gravidez da pior forma que poderiam imaginar. Chegaram a pensar em romper com tudo e ir para outra cidade, começar uma nova vida onde fossem respeitados pelo que quiseram decidir.

Por fim, o grande dia chegou. Pouco antes do parto, inexplicavelmente, Mari Luz e Emilio estavam notavelmente felizes, como se no mais profundo de seu ser soubessem que tudo era para um bem.

Se a notícia terrível que um dia receberam tinha mudado a vida deles, essa não faria menos: para surpresa deles mesmos e dos outros, tudo foi bem, nasceram duas meninas lindas e saudáveis! Deram à elas os nomes de Mari Fe e Angélica. Ainda que não tivessem rompido os laços por completo, a relação com os seus familiares nunca voltou a ser a mesma. Para mim, este caso foi muito especial, não somente pelo valor que esse matrimônio demonstrou, mas também porque sou a madrinha de Mari Fe.

baby-507335_640A amniocentese não serve hoje para prevenir nenhuma doença, apenas se usa para detectar defeitos cromossômicos do nascituro cujo destino provável será a morte violenta provocada, isto é, o aborto. Portanto, é um diagnóstico que não tem nenhum interesse terapêutico, somente eugênico. A sociedade começa a assumir que os seres humanos tem que passar por um controle de qualidade antes de serem aceitos, algo que não é feito sequer com os animais. A coragem desses pais nos deu outra prova de que esses testes tão científicos e convenientes erram numa porcentagem excessivamente alta.

Caso acompanhado por Esperanza Puente, voluntária pró-vida e fundadora da Associação Voz Pós Aborto (Espanha), descrito em seu livro “Rompiendo El Silencio” Ed. Libros Libres (2009, Madri).

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