Como já tive oportunidade de dizer anteriormente aqui no blog, o aborto não é a doença, ele é um sintoma. Com certeza é um dos piores, mas, ainda assim, é apenas um sintoma da doença bem mais profunda que atinge nossa sociedade.
Se se pudesse ter uma notícia nos últimos tempos em que a doença de nossa sociedade pudesse ser vista claramente e em todas as suas cores, provavelmente seria o que foi divulgado pela página australiana Kidspot. Na reportagem publicada ontem (03/05/2017), é mostrada a história do casal Belinda e Shaun Stafford, que havia feito inseminação artificial durante um processo de 6 anos, que resultou no nascimento de Lachlan, de 4 anos, e dos gêmeos Charlotte e William, de 21 meses.
O casal então achou que estava na hora de parar, que três filhos eram suficientes. Mas é aí que se impôs a questão — questão, aliás, que é um dos inúmeros problemas éticos da inseminação artificial — sobre o que fazer com os embriões excedentes resultantes do processo e que não foram implantados. Sete embriões não foram implantados e permaneciam armazenados na clínica que havia feito todo o processo de inseminação artificial. O que fazer?
Eles então começaram a pensar nas opções sobre o que fazer com os embriões. O casal alega que até queria continuar a ter filhos, mas a parte financeira pesou, etc. Doar os embriões, para o casal, era uma opção que eles não queriam. Tampouco era viável manter os embriões armazenados na clínica, pois isto acarretaria muitos gastos.
Com as opções (chamemos isto de opções…) escasseando, a coisa foi ficando mais e mais bizarra. Eis o que disse Belinda Stafford:
“Eu ouvi que outros [casais] enterravam seus embriões em seus jardins, mas nós nos mudamos com freqüência e isto não nos seria possível.”
E ela ainda acrescentou:
“Eu precisava deles junto comigo.”
Qual foi então a solução que o casal achou? Uma empresa australiana especializou-se em lidar com casos bizarros como o da família Stafford. O que esta empresa fez? Simples: os embriões foram coletados da clínica, passaram por um processo que resulta em “cinzas de embriões” e, por fim, foram colocados em um pingente em forma de coração. E agora Belinda Stafford pode carregar seus embriões — o que restou deles, é claro — junto a si para todo lado.
Não sei se alguém já disse a Belinda e a Shaun Stafford que o que eles estão carregando por aí são seus filhos mortos, mas creio que eles nem devem se importar com isto. Em outra declaração de Belinda, podemos ver que ela parece mesmo estar em negação das conseqüências da decisão que ela e seu marido tomaram:
“Meus embriões eram meus bebês – congelados no tempo. Quando nossa família ficou completa, meu coração não me deixava que ele fossem destruídos. E agora eles estão comigo para sempre em um lindo pingente.”
Na verdade, seus embriões estão mortos, suas vidas foram eliminadas, e ela e seu marido sequer se dão conta do ato que cometeram.
Tão bizarro quanto o pensamento destes pais é sabermos que existem empresas que façam tal tipo de serviço. Sim, é bizarro, mas não surpreende. Assim como onde há carniça, há abutres, sempre haverá gente que procurará ganhar dinheiro com a desgraça alheia. A fundadora da joalheria macabra que prestou serviços aos Stafford, disse o seguinte:
“Não acho que exista qualquer outra empresa no mundo que crie jóias a partir de embriões humanos, e acredito que somos os pioneiros neste tipo de arte sagrada (…)”
“Arte sagrada”! Ela, que segundo informações da página Kidspot já foi parteira por 10 anos, chama de “arte sagrada” criar jóias com embriões sem vida para serem usados por seus genitores, os mesmos responsáveis por suas mortes. A página informa que a empresa já produziu por volta de 50 jóias com embriões. A empresa também produz jóias com leite materno, com placenta ou com cinzas.
E a dona da empresa ainda deixa uma mensagem ao final da reportagem:
“Existe melhor forma de celebrar um presente tão precioso – seu filho – do que através de uma jóia?”
Se você achou bizarra esta história, parabéns! Você ainda tem um coração batendo no peito. Isto não é apenas bizarro. É doentio, é perverso, é demoníaco. Sem entrar no mérito de uma inseminação artificial, no mínimo o casal, caso não tivesse condições financeiras para assumir todos os seus filhos, poderia encaminhá-los para serem doados. Mas não… O “precisava deles junto comigo” falou mais alto, mesmo que “eles” estivessem mortos. E parece que colocá-los em “um lindo pingente” apaga tudo, não é mesmo?
É exatamente esta a nossa doença, é uma doença moral, é a corrupção dos nossos princípios. É uma doença tão grave que leva a dona da joalheria a chamar de “arte sagrada” um processo que nada mais é que a morte direta de seres humanos em estágio frágil. É uma doença que leva uma mãe e um pai a sequer conseguirem compreender o absurdo de seus atos, mascarando-o com uma casca de metais preciosos e um belo design.