Como superar a dor de perder um bebê que morre logo depois do parto?
Quando não se pode fazer nada para salvar o recém-nascido porque não há nada a ser feito?
Em determinadas situações da vida, aceitar o sofrimento é a única forma de encontrar sentido e assim impedir que o inferno se faça já aqui nesta terra.
Não há fuga a não ser aceitar a realidade: esse filho veio para uma vida breve – mas isso não significa uma vida sem sentido, sem uma missão.
Alejandro viveu o drama de ver seu bebê morrer poucos dias após do nascimento. Não foi uma trajetória fácil, sem sofrimento, mas Alejandro reconhece que seu filho esteve nesta terra o tempo que lhe correspondia; e que ele, como pai, precisava viver essa cruz para não perder a sua identidade de pai e a própria humanidade.
Tua Graça vale mais que a Vida
Dia 19 de outubro, em circunstâncias muito complicadas, nasceu o meu terceiro filho, Leonardo, que em poucos dias morreu.
O primeiro impacto, o primeiro pensamento que tive ao vê-lo pela primeira vez foi: “És tão meu mas ao mesmo tempo tão de Outro, porque eu não posso te dar nem um instante de vida, não posso te dar nem um sopro”.
Logo estiveram comigo os meus amigos, a Igreja (que eu mesquinhamente tantas vezes reneguei) e a família, que me ajudou não só ativa e economicamente, mas também de maneira gratuita, livre e carinhosa.
Posso dizer que em todos esses dias não me deixaram sozinho nenhum momento.
São rostos que com sua força e certeza – como uma rocha – me permitiram aceitar a dor e olhar que na realidade o meu filho, com tão somente oito dias de nascimento, tem uma missão e já encontrou o destino que todos nós buscamos. Por isso havia que cantar durante o seu enterro, porque é tão misterioso quanto belo chegar a plenitude.
Nesses dias senti muito medo; e, como nunca antes, espanto.
Pensei: “Não quero que se faça a Tua vontade, mas a minha”; não conseguia dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua palavra”. Não queria obedecer, não entendia, e tampouco queria entender o que significa “oferecer” esta dor.
Não me saíam essas palavras da boca.
Mas então, como agora, vejo que não há mais que uma alternativa: o nada – em que me afogo facilmente – ou a graça – que me é dada através de todos os seus sinais.
Só assim posso voltar ao juízo verdadeiro: “Sou teu, meu bebê é teu, te entrego. Aceito em todo o tempo que Tu decidas, apenas me dê a graça de aceitar os teus desígnios”.
Quando Leonardo morreu, meus filhos Sara e Daniel perguntaram a sua mãe e a mim: “E para que serviram esses meses de gravidez? Para que te abriram a barriga? Para nada?”. Essas perguntas e a dor não me deixaram um só dia. Eu realmente acredito que ele está no céu? Realmente acredito no que digo?
Descobri que a falta de significado, que a realidade sem sentido, é o inferno nesta vida.
É assim que o verso do salmo “a tua graça vale mais que a vida” adquire todo o seu valor; a graça de que o Senhor me conceda seguir compreendendo que Deus faz boas e novas todas as coisas. Novo o amor pelos meus filhos, pela minha esposa. De alguma forma misteriosa e dramática começou uma nova relação com Cristo – mas íntima, mais quotidiana, mais real.
Alejandro, de Oaxaca (México)
Testemunho retirado da Revista Huellas (edição de língua espanhola do Comunhão e Libertação) de Fevereiro 2017
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