“Entrei em pânico, disse que não queria abortar, mas eles insistiram”, contou Maria (nome fictício), moradora de rua em Madri, aos quais os trabalhadores do SAMUR (Serviço Municipal de Urgências de Madri) pressionaram para abortar ao descobrir que estava grávida.
Maria, natural do Peru, chegou à Espanha há quatro meses com o namorado. Ela morava num quarto alugado. Um mês depois de chegar a Madri, descobriu que estava grávida e o namorado a abandonou. Sem trabalho e sem ter como pagar pelo quarto, ela teve de ir morar na rua. Sozinha, assustada e sem dinheiro, ela foi até a sede do SAMUR para pedir comida e um teto. Eles só lhe proporcionaram uma cadeira para passar a noite. Maria estava muito fraca e desmaiou, e contou que estava grávida.
Eles então a levaram para o hospital onde se confirmou a gravidez. Os assistentes sociais lhe disseram que o melhor era fazer um aborto. “Se você abortar”, disseram, “nós te mandaremos para um abrigo. Se você não abortar, terá que ir embora”. Ela disse que não queria abortar, que queria ter o bebê, que deveria haver alguma ajuda, que só queria um teto e poder ter o filho. Eles afirmaram que isso não era possível.
O SAMUR a levou para uma clínica de aborto. Lá explicaram que a intervenção seria simples, que iriam introduzir um aspirador no útero dela. Maria entrou em pânico.
Na clínica, informaram que para que fosse um aborto gratuito (pago com os recursos públicos) ela teria que fazer o cartão do Seguro Social. Já eram oito horas da noite, mesmo assim o SAMUR a levou para um ambulatório onde ela conseguiria obter o cartão, as assistentes disseram a Maria para não contar que havia sido levada ao abortório, mas para dizer que fazia esse cartão para poder ser atendida durante a gravidez.
Depois de conseguir o cartão e de volta ao veículo do SAMUR, Maria mais uma vez declarou que não queria fazer um aborto, mas os funcionários responderam para ela não se preocupar, que algumas das assistentes sociais já tinham abortado e que tudo ficou bem.
Angustiada, Maria procurou ajuda on-line e encontrou a ONG Fundación Madrina, ela disse que iria para a Fundação. As assistentes sociais disseram que se ela saísse do SAMUR, não poderia voltar, que ela ficaria sem ajuda e insistiram afirmando que Maria não tinha nenhuma garantia de que a ONG pró-vida faria algo por ela. Os servidores sociais prometeram que iriam tentar comprar uma passagem de avião para Maria poder voltar ao seu país, e que tudo seria mais fácil se ela aceitasse um aborto. Mesmo assim, Maria preferiu deixar o SAMUR e pedir ajuda a Fundação.
Agora, Maria mora num apartamento de acolhida proporcionado pela Fundação Madrinha, está de quatro meses e espera gêmeos. Ela recebe apoio, atenção médica, psicológica e formação para encontrar trabalho.
Conrado Giménez, presidente da Fundação Madrinha, diz que muitas mulheres procuram a ONG em situações similares: pressionadas a abortar por profissionais do serviço social. Isso porque na Espanha há uma legislação sobre o aborto e muitos dos assistentes sociais, formados na ideologia de gênero, acham que é um direito da mulher abortar. “Por isso, quando recebem uma mãe em situação de vulnerabilidade, costumam oferecer o aborto porque a lei protege”.
“É a primeira opção que oferecem”, disse. “Acho isso uma violência administrativa e é permitida porque está no protocolo. Ficamos sabendo pela quantidade de mães que nos contam e chegam até nós chorando”.
A Fundação Madrinha não recebe auxílio estatal, é uma ONG independente que subsiste apenas de contribuições individuais.