Consequências do aborto: o testemunho de uma mulher sobre trauma e cura

Quando tinha 30 anos, Christine Harrington já havia se submetido a dois abortos (o segundo, de gêmeos). Seu relato testemunha o impacto destrutivo do aborto nas mulheres.

Confira a entrevista que ela deu ao Church Militant sobre sua experiência:

Por que você fez o aborto?

Eu só tenho recortes de memória. Não é incomum que mulheres pós-abortivas tenham memória limitada de seu aborto. Muitas vezes, não lembramos da data, nem do mês ou ano. Como eu, a maioria das mulheres que procuram como abortar o fazem por falta de apoio, seja financeiro ou emocional. No meu caso, todo mundo me dizia que eu deveria fazer um aborto porque eu não era casada. Ninguém me encorajou que é a vontade de Deus ter essa criança, sequer mencionou que o aborto é pecado.

Ouvi conselhos do tipo “a lei permite abortar”, “é só um amontoado de células, por que se preocupar em criar essa criança sozinha?”; e o pai dos bebês disse: “livre-se disso”.

Você era católica praticante na época?

Na época dos abortos eu frequentava esporadicamente uma igreja cristã não-denominacional. Depois do segundo aborto, parei completamente de ir à igreja. Eu me sentia condenada, sem esperança e meu sofrimento se intensificou. Assumi que agora estava excomungada da Igreja Católica por causa dos abortos. Então eu mergulhei na Nova Era.

Como você racionalizou os seus abortos?

Aqui é onde está o problema: eu não conseguia justificar os abortos. Eu sabia que era errado. Sabia que era um pecado grave. Então eu fiz o que milhões de outras mulheres pós-abortivas fazem: que é enterrar tudo – enterrar a realidade de que eu voluntariamente matei meus próprios bebês; enterrar a vergonha, a dor e o arrependimento. Não fale sobre isso. Não reconheça. Aja como se nunca tivesse acontecido. Sempre que o aborto era mencionado na TV, eu rapidamente mudava de canal.

Quem sabia sobre seus abortos?

Minha família, o pai e alguns amigos íntimos.

Como você se sentiu depois de abortar?

A maioria das mulheres pós-abortivas com quem falo tem a mesma sensação que eu: de dormência, torpor. Sentia-me entorpecida, espiritualmente desconectada, como se estivesse em choque.

Uma lembrança que tenho é de estar sendo levada para casa depois do segundo aborto. O médico disse que eu estava grávida de gêmeos e imediatamente gritei “pare!” e ele respondeu, sem nem me olhar, “tarde demais”.

Com alívio e alegria, a depressão em que passei nos últimos 18 anos desapareceu da minha alma. Agradeço a Deus por sua misericórdia!

Não me lembro de sair da clínica. Lembro-me de ser levada para casa com a cabeça apoiada na janela fria do carro, sentindo como se tivesse acabado de perder a minha alma, o sentimento de completo vazio e o ódio que sentia contra mim mesma. Muitas mulheres pós-abortivas se arrependem do aborto, talvez não naquele dia, mas pouco depois. É um arrependimento que assombra em cada um dos seus dias.

O que o te levou a finalmente olhar para isso e para si mesma de forma honesta e sincera? A confissão sacramental estava envolvida?

Eu não aguentava mais continuar negando os abortos. Dezoito anos antes, minha mãe me deu o cartão de contato de um padre. Havia deixado esse cartão num lugar de destaque na minha mesa de escritório por 18 anos. Em janeiro de 2008, peguei o telefone e marquei um horário para confissão. Depois de duas horas e meia de confissão, chorando incontrolavelmente durante a maior parte, o monsenhor me absolveu de todos os meus pecados e disse que poderia ser recebida de volta à Igreja Católica.

Com alívio e alegria, a depressão que vivi nos últimos 18 anos desapareceu da minha alma. Fiquei muito agradecida pela misericórdia de Deus. Mas o monsenhor não terminou; ele me entregou um folheto do retiro do Projeto Raquel e me incentivou a ir. Quando saí, o monsenhor me disse: “Você sabe que dia é hoje?” Eu balancei minha cabeça que não. “É o dia em que Roe v. Wade foi aprovado em 1973. Não é coincidência que você esteja aqui hoje. Deus escolheu este dia para você.”

Christine Harringto

Conte-nos brevemente sobre sua experiência no retiro do Projeto Raquel.

Senti que minha vida foi devolvida para mim. Todos os envolvidos na realização do retiro foram muito calorosos e acolhedores. Eu tinha ido a cinco terapeutas diferentes nos últimos 18 anos e ninguém nunca perguntou se eu tinha feito um aborto. Não haviam feito a conexão entre a minha profunda depressão e os abortos.

Os terapeutas do retiro nos ajudaram a juntar todas as peças e nos forneceram ferramentas para começarmos a curar. A Síndrome de Estresse Pós-Aborto é um diagnóstico real e eles nos ajudaram a aprender a lidar com isso.

O processo de luto incluiu dar um nome aos seus bebês? Ou a orar por eles?

Houve experiências maravilhosas para ajudar a mãe pós-abortiva a se reconectar com os seus bebês abortados, e nomear os bebês foi apenas uma.

Você acredita que a alma do seu bebê está no céu? Ou em algum outro lugar?

Sim, acredito que as almas dos bebês estão com Jesus no Céu, baseado no Papa São João Paulo II, dizendo, aos que perderam um filho para o aborto, no Evangelho da Vida: “A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis com esperança confiar o vosso bebê.” (No 99).

Como você compara sua vida hoje com os 18 anos em que esteve em negação?

Minha vida é muito diferente agora, depois do sacramento da confissão e do retiro do Projeto Raquel. Voltei à Igreja Católica, estou vivendo em estado de graça. Dedico-me a ajudar mulheres pós-abortivas a enfrentarem a decisão que tomaram e a encontrar cura e esperança. Mas certas coisas ainda me desencadeiam, e volto a cair na Síndrome de Estresse Pós-Aborto.

Aqui estão dois exemplos: decidi tornar público meus abortos e me tornei membro da equipe pró-vida da arquidiocese. Isso significava que eu tinha que contar tudo ao meu filho, que tinha 16 anos na época. Ele nunca soube dos abortos. Quando contei, não previ a reação dele, e sua dor apunhalou muito profundamente o meu coração. Ele disse: “Quer dizer que eu não tinha que ter crescido sozinho?”, e a segunda pergunta: “Por que você não me abortou também?”. Muitas vezes esquecemos como o aborto afeta outros membros da família; e os afeta profundamente. O aborto faz com que a mãe se desconecte emocionalmente de seus filhos vivos e se desconecte espiritualmente de Deus.

Agora, no Dia de Ação de Graças e no Natal, somos apenas meu filho e eu. Olhamos para as três cadeiras vazias que deveriam estar ocupadas pelos três filhos que “escolhi” matar. Apesar de não viver mais em negação, a dor da minha “escolha” permanece em cada feriado, aniversário e todos os outros dias. Só que agora eu sei, através da graça de Deus e do Projeto Raquel, como lidar com esse sofrimento e o isolamento. Minha devoção pessoal é oferecer meu sofrimento pelas almas santas do Purgatório.

O que você diria às mulheres que estão agora nesse estado de negação?

No meu trabalho pró-vida me deparei com dois tipos de mulheres pós-abortivas: aquelas como eu, que sofrem silenciosamente, e as que são barulhentas e “orgulhosas” de seu aborto.

Um exemplo recente é Michelle Williams recebendo um prêmio no Golden Globes e anunciando com orgulho seu aborto.

As mulheres pós-abortivas que são “barulhentas e orgulhosas” de sua “escolha” são as que sofrem a negação mais profunda. Elas precisam proclamar em voz alta para defender sua escolha; do contrário, elas seriam forçados a admitir para si mesmas que a sua “escolha” matou um bebê.

Gostaria de adicionar algo mais?

Quando engravidei pela terceira vez, depois de dois abortos, não era capaz de passar por isso outra vez. À medida que minha gravidez avançava, percebia ainda mais profundamente o que havia feito nos abortos. Esses bebês não eram um amontoado de células. Eles eram seres humanos vivos, que estavam crescendo. Meu opróbrio se intensificou. Veja bem, o aborto faz com que a mãe se desconecte emocionalmente de seus filhos vivos e espiritualmente se desconecte de Deus.

Quando finalmente trouxe para casa meu filho recém-nascido do hospital, fiquei com medo dele. Eu tinha medo de machucá-lo de alguma forma, porque afinal, eu era um monstro por matar seus irmãos. Como Deus poderia confiar em mim com esse presente precioso? Muitas vezes, chorava à noite pedindo a Deus que me ajudasse a ser uma boa mãe. Há esperança, cura e perdão após o aborto.

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